Nesse domingo, dia 12 de março, acontece no Dolby Theatre, em Los Angeles, a 95ª edição do Prêmio da Academia, mais popularmente conhecido como Oscar. A cerimônia, que é a mais tradicional do cinema mundial, será apresentada pela terceira vez por Jimmy Kimmel. A premiação que é promovida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (AMPAS) reconhece anualmente, desde 1927, os melhores trabalhos produzidos pela indústria cinematográfica norte-americana e, porque não dizer, mundial.
Nos Estados Unidos, a cerimônia será transmitida ao vivo para todo o país pela tradicional emissora de televisão ABC. No Brasil, a cerimônia não deve ser transmitida ao vivo pela TV aberta, já que a Rede Globo, que nos últimos anos vinha transmitindo a cerimônia, esse ano decidiu não comprar os direitos de transmissão. Dessa forma, a cerimônia só poderá ser vista na TV fechada no canal TNT, que há muitos anos transmite a cerimônia, e no streaming através da HBO Max.
Durante esses últimos dias, que precederam a entrega do Oscar, temos analisado cada uma das categorias da premiação e com base nessa análise, temos tentado prever quem irá vencer cada uma delas. Portanto, para não perder nenhuma das previsões, basta ler os textos que publicamos nos últimos dias e também os textos que publicaremos nas próximas horas em nosso site e em nossas redes sociais.
Melhor Documentário em Longa-Metragem
Como fizemos até aqui em todos os nossos outros textos sobre quem vencerá o Oscar desse ano, começaremos explicando o que é um documentário e o que os eleitores da Academia buscam premiar nessa categoria. Primeiro, um documentário é basicamente um filme de não-ficção, ou seja, um filme cuja narrativa contada não é “inventada”, mas real. Um documentário busca justamente documentar a realidade. Já em um filme de ficção, toda a narrativa é “inventada”, sendo criação da cabeça do roteirista ou, em alguns casos, do escritor de onde veio a história original. Então, isso é basicamente o que é um documentário.
Nesse primeiro texto, falaremos sobre os documentários no formato de longa-metragem, ou seja, documentários com (pelas regras da Academia) mais de 40 minutos de duração. No texto a seguir falaremos sobre os documentários no formato de curta-metragem, ou seja, documentários com (pelas regras da Academia) até 40 minutos de duração.
O que a Academia busca ao premiar um documentário de longa-metragem varia muito. No início, quando essa categoria começou oficialmente a ser premiada em 1942, por razões históricas (estávamos no meio da Segunda Guerra Mundial), a Academia premiou e reconheceu muitos filmes de guerra em estilo jornalístico. Esse era aliás o formato da maioria dos filmes documentais produzidos na época. Muitos desses filmes eram, inclusive, produzidos e financiados por órgãos governamentais.
Logo depois, houve um período em que a Academia premiava muitos documentários sobre a natureza, como os famosos filmes do oceanógrafo Jacques Cousteau. Atualmente, a maioria dos documentários que são indicados e vencem o Oscar, estão relacionados a política, a acontecimentos atuais, a fatos históricos ou são biografias de figuras históricas e atuais. Esse ano, por exemplo, dos cinco filmes indicados nessa categoria, quatro são de alguma forma centrados em pessoas e/ou figuras históricas, sendo que a maioria deles também faz uma ligação com a realidade atual.
Agora, chega de papo. Vamos ao que interessa, tentar prever quem irá levar o Oscar de Melhor Documentário de Longa-Metragem na cerimônia que ocorre nesse domingo. Apesar de essa categoria estar bastante concorrida esse ano com vários filmes que, inclusive, conseguiram atingir um público mais geral (o que normalmente não é tão comum), podemos dizer que existe um claro favorito a levar a estatueta para casa, e ele é Navalny.
O documentário político dirigido por Daniel Roher, gira em torno da figura de Alexei Navalny, líder da oposição ao presidente russo Vladimir Putin, e também do episódio de seu misterioso envenenamento em 2020. O filme que foi produzido pela HBO Max e pela CNN Films estreou em janeiro de 2022 no Festival de Sundance e desde então vem ganhando praticamente todos os prêmios mais importantes dados a documentários nessa temporada. Navalny começou vencendo justamente o Prêmio da Audiência de Melhor Documentário no próprio festival, que é um dos mais importantes do mundo, e não parou mais.
É importante lembrar que o Festival de Sundance tem uma influência inegável no Oscar de Melhor Documentário e diversos filmes que estrearam lá, acabaram por vencer o Oscar nessa categoria. Além do prêmio no festival, Navalny ganhou também o BAFTA e o Producers Guild of America Awards desse ano, na categoria de Melhor Documentário. Esse último prêmio, é entregue pela Producers Guild of America (ou Sindicato dos Produtores da América, em português), a organização que representa os produtores de cinema e televisão atuantes nos Estados Unidos.
Como já explicamos em todos os nossos outros textos sobre quem vencerá o Oscar, observar de perto quem vence essas premiações entregues por associações profissionais da indústria cinematográfica norte-americana é muito importante na tentativa de entender quais as chances de vitória de cada filme em cada uma das categorias do Oscar. Isso porque, muitos dos profissionais que são membros dessas associações e votam nessas premiações, também são membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood e votam no Oscar.
O principal adversário de Navalny na disputa pelo prêmio é Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft, documentário sobre o casal de vulcanologistas Katia e Maurice Krafft, que exploravam vulcões, mundo afora e que morreram juntos na erupção do Monte Unzen em junho de 1991. O filme, que foi dirigido e produzido por Sara Dosa, também estreou no Festival de Sundance do ano passado e logo depois foi distribuído pela National Geographic Documentary Films e pela Neon. O filme fez sucesso por onde passou e desde sua estreia tem sido bastante elogiado pela crítica especializada. Vulcões, inclusive, alcançou até mesmo sucesso entre o público geral, já que está disponível na plataforma de streaming Disney+.
Além dos dois filmes citados acima, os documentários All the Beauty and the Bloodshed e Tudo O que Respira aparecem na lista de possíveis vencedores de alguns especialistas da indústria cinematográfica. O primeiro filme, que é dirigido pela premiadíssima diretora Laura Poitras (que, inclusive, já venceu o Oscar nesse mesma categoria em 2015), gira em torno da vida da artista e ativista Nan Goldin e da queda dos Sackler, uma poderosa e rica família dona de várias grandes empresas farmaceuticas nos Estados Unidos. Já o segundo filme, retrata a vida de dois irmãos indianos, Mohammad Saud e Nadeem Shehzad, que resgatam e tratam pássaros feridos na Índia. Ambos os filmes foram bastante elogiados pela crítica e receberam diversas indicações a prêmios importantes durante o ano, mas não devem ser páreo para Navalny.
Por último, temos A House Made of Splinters, documentário sobre um grupo de crianças vivendo em um orfanato especial na cidade de Lysychansk, no leste da Ucrânia. O filme também passou com sucesso pelo Festival de Sundance e foi bastante elogiado pela crítica especializada, mas sua indicação ao Oscar foi uma surpresa para muita gente. Esse é, provavelmente, o documentário menos premiado entre os indicados ao Oscar de Melhor Documentário desse ano e, apesar de lidar com um assunto atual (a Guerra na Ucrânia) tem pouquíssimas chances reais de vencer o prêmio nessa categoria.
Dito tudo isso, nosso veredicto é o de Navalny vai levar o Oscar para casa, provocando a ira de Vladimir Putin e do governo russo. Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft corre por fora, mas tem chances reais de vencer nessa categoria. Já uma possível vitória de All the Beauty and the Bloodshed ou de Tudo O que Respira seria bastante inesperada e a vitória de A House Made of Splinters seria uma enorme zebra.
Confira abaixo, todos os indicados ao Oscar de Melhor Documentário em Longa-Metragem:
- Tudo O que Respira
- All The Beauty and the Bloodshed
- Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft
- A House Made of Splinters
- Navalny
Melhor Documentário em Curta-Metragem
Os documentários em curta-metragem começaram a ser premiados praticamente juntos com os documentários em longa-metragem lá no início dos anos 1940. A diferença é que os documentários em curta-metragem sempre foram filmes muito mais alternativos e por vezes até inacessíveis. Até pouco tempo atrás, por exemplo, era uma dificuldade enorme achar esses filmes para se assistir. Felizmente, esse cenário mudou recentemente com a chegada das plataformas de streaming e a popularização do YouTube.
Por todos esses motivos, historicamente, a maioria dos filmes premiados eram obras mais políticas, atuais e/ou baseadas em personagens reais. Por essa inacessibilidade, sempre foi muito dificil prever com exatidão quem vai ganhar o Oscar em qualquer uma das categorias que premiam curtas-metragens, incluindo a de Melhor Documentário em Curta-Metragem. Até porque, a maioria das premiações não possui categorias específicas para curta-metragens. Nesse sentido, o Oscar é uma exceção.
Dito tudo isso, faremos nosso melhor para tentar prever quem irá vencer o Oscar de Melhor Documentário em Curta-Metragem. Baseado em opiniões dentro da indústria e também no clima há poucas horas da cerimônia do Oscar, essa categoria parece ter dois favoritos claros, Como Cuidar de um Bebê Elefante e Stranger at the Gate, com o primeiro aparentemente em pequena vantagem sobre o segundo. O mais interessante, é que os filmes são completamente diferentes.
O primeiro é sobre um casal que desenvolve uma ligação com um bebê-elefante órfã. Enquanto o segundo é um filme político sobre um ex-soldado americano que deixa sua islamofobia de lado ao conviver com um grupo de muçulmanos. Vamos ver se a Academia vai preferir um filme “mais sério” e político ou um filme para “aquecer o coração”.
Como Cuidar de um Bebê Elefante tem a vantagem de ter sido distribuído pela Netflix. Portanto, além de ser facilmente acessível para o público em geral, também conta com a “maquina” de fazer campanha da empresa que é muito forte em Hollywood e que já ajudou muitos filmes a levarem a estatueta para casa. Já Stranger at the Gate está disponível gratuitamente no YouTube e é dirigido pelo premiado documentarista Joshua Seftel. Além disso, o filme fala sobre assuntos atuais, como, islamofobia, terrorismo, preconceito, transtorno pós-traumático, etc.
Correndo por fora, mas com chances reais de vitória, estão: How Do You Measure a Year?, sobre a relação entre um pai e sua filha através de vídeos caseiros que o pai faz da filha; Haulout, sobre o trabalho do cientista russo Maxim Chakilev com as morsas que habitam o Cabo Heart-Stone no Mar de Tchuktchi e O Efeito Martha Mitchell (que também está disponível na Netflix), que através de imagens de arquivo, conta a história de Martha Mitchell, uma das principais testemunhas do famoso Caso Watergate.
Dito tudo isso, ousamos dizer que os membros da Academia vão escolher Como Cuidar de um Bebê Elefante como Melhor Documentário em Curta-Metragem desse ano. A Academia vai preferir um filme mais “agradável” a um filme mais “duro” e vai dar mais uma estatueta para a Netflix. Contudo, tanto Stranger at the Gate quanto os outros concorrentes nessa categoria têm, sim, chances reais de levar a estatueta para casa.
Confira abaixo, todos os indicados ao Melhor Documentário em Curta-Metragem:
- Como Cuidar de um Bebê Elefante
- Haulout
- How do You Measure a Year?
- O Efeito Martha Mitchell
- Stranger at the Gate
Melhor Curta-Metragem
Agora falaremos um pouco sobre o prêmio de Melhor Curta-Metragem. Nessa categoria, a Academia premia curta-metragens live-action de ficção. Ou seja, o filme não pode ser uma animação, já existe uma categoria para Melhor Animação em Curta-Metragem, sobre a qual falaremos em nosso texto sobre quem vai vencer o Oscar de Melhor Animação, e não pode ser um documentário, já que existe também uma categoria especificamente para documentários sobre a qual nós, inclusive, já falamos no texto acima. Além disso, para ser considerado curta-metragem pela academia, o filme não pode ter mais que 40 minutos de duração, incluindo todos os créditos.
Essa categoria existe, em diversos formatos desde 1931. Lembrando sempre que no início do cinema, curta-metragens eram muito mais comuns e populares do que são hoje. Isso porque, produzir longas naquela época era muito mais difícil e custoso. Basta lembrarmos que alguns dos filmes de comédia mais famosos de gênios como Charles Chaplin, O Gordo e o Magro e Buster Keaton eram curta-metragens.
Por tudo isso que foi dito, em seu início essa categoria premiava muitos filmes de comédia e também documentários, já que nos anos 1930, a Academia ainda não tinha criado a categoria de Melhor Documentário em Curta-Metragem. Com a popularização dos longa-metragens e a chegada da televisão, os filmes em curta-metragem ficaram cada vez menos populares e o perfil dos vencedores nessa categoria mudou bastante, passando a premiar mais filmes de arte, alternativos e filmes estrangeiros.
Após apresentado todo esse contexto histórico, assim como dissemos acima em nosso texto sobre documentários em curta-metragem, também é difícil prever exatamente quem vai vencer nessa categoria. Contudo, aqui temos uma “ajuda extra”, já que o BAFTA também possui uma categoria para premiar curtas-metragem e baseado no que ocorreu no BAFTA e também nas opiniões de especialistas da indústria, acreditamos que o curta irlandês An Irish Goodbye é o favorito a vencer nessa categoria.
O filme conta a história de dois irmãos que se reúnem após a morte de sua mãe para tentar completar sua “bucket list”, ou seja, as coisas que ela queria fazer antes de morrer. A obra conta com uma história belíssima, é muito bem filmada e é esteticamente prazerosa de se assistir. Além disso, é o único filme falado em inglês entre os indicados desse ano. Esse fato, combinado a vitória no BAFTA, com certeza o coloca com vantagem para vencer o Oscar desse ano.
Correndo por fora, mas com chances reais de vitória, estão o filme italiano Le pupille e The Red Suitcase, produzido em Luxemburgo. O primeiro filme conta com diversos pontos positivos que pode levar a sua vitória nessa noite. O primeiro deles, é ter sido distribuído pela plataforma de streaming Disney+. Com isso, além de ter uma enorme plataforma de divulgação, a produção conta ainda com a força da Disney que é enorme em Holywood. Além disso, o filme foi produzido por dois cineastas premiados, Alice Rohrwacher e Alfonso Cuarón. Rohrwacher tem muita força no mercado cinematográfico europeu e Cuáron já é figurinha carimbada no Oscar. Todos os seus últimos três filmes foram indicados ao Oscar em alguma categoria. Isso sem falar que Le pupille é uma obra de arte com um trabalho estético fantástico.
Já The Red Suitcase, conta a história de uma jovem e talentosa artista de 16 anos que chega a Luxemburgo, micro-país no centro da Europa, vinda do Irã para se casar, em um casamento arranjado, com um homem muito mais velho que ela. Aterrorizada, ela faz de tudo para escapar do destino que a espera. Além de muito bem filmado, The Red Suitcase é uma obra muito atual. Por isso, não seria surpresa nenhuma, se os membros da Academia o premiassem com o Oscar.
Além desses três filmes, também estão indicados o curta dinamarquês Ivalu, que se passa na Groenlândia e lida com temas fortes como abuso sexual e suicídio e o norueguês Night Ride, que lida com temas como nanismo, preconceito e transfobia. Como dissemos, como é difícil prever as categorias que premiam curtas-metragens é possível até mesmo que esses dois últimos filmes levem o Oscar para casa.
Após apresentar e discutir cada um dos indicados desse ano ao Oscar de Melhor Curta-Metragem, chegamos a conclusão de que An Irish Goodbye vai levar o prêmio para casa. No entanto, Le pupille e The Red Suitcase são concorrentes de peso e não seria surpresa alguma se qualquer um deles vencesse essa categoria. Ivalu e Night Ride parecem ter menos chances de vitória, mas mesmo assim ainda estão na briga.
Confira abaixo, todos os indicados ao Melhor Curta-Metragem:
- An Irish Goodbye
- Ivalu
- Le Pupille
- Night Ride
- The Red Suitcase