Console Mattel Intellivision e cartuchos
Console Mattel Intellivision

Desde o grande sucesso alcançado pelos consoles Magnavox Odyssey e o lendário Atari 2600, várias empresas foram atraídas para se aventuraram em busca de criar dispositivos similares que proporcionassem entretenimento interativo aos jogadores e assim conquistar sua fatia do mercado. Que, inclusive, parecia bastante promissor. Uma dessas pioneiras foi a Mattel, com seu poderoso console, o Intellivision. A Mattel não apenas estabeleceu uma forte concorrência contra a, até então, líder de mercado Atari, mas ele também “subindo a régua” no que diz respeito a quesito técnicos e de jogabilidade na época. Hoje, queremos mergulhar na história e trazer a superfície os detalhes que fizeram do Intellivision o “brinquedo” mais elaborado e ambicioso da Mattel.

O Lançamento do Intellivision

O Intellivision foi lançado em 3 de dezembro de 1980 pela Mattel Electronics, uma divisão da renomada empresa de brinquedos Mattel, Inc. Mas, espera, vamos voltar um pouco mais no tempo…

A decisão de entrar no mercado de videogames foi tomada após o mundo observar o sucesso dos consoles domésticos da Atari, como o Atari 2600. A Mattel viu uma oportunidade de diversificação e expandiu seus horizontes para a indústria de jogos eletrônicos.

Em 1977, o chefe do departamento de design e projetos da Mattel, Richar Chang, começou a trabalhar em uma ideia de console de videogame doméstico. Recrutando membro para a equipe, logo convidou Glenn Hightower da APh Technology Consultants para ajudar a definir o projeto. O engenheiro Dave Chandle da Mattel ficou encarregado de liderar uma equipe de desenvolvimento de hardware.

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David Rolfe da Aph Tecnology foi o principal programador do EXEC, o sistema operacional que foi usado no Intellivision. Inclusive nas versões que vieram posteriormente.

Embora, em um primeiro momento, a diretoria da Mattel fosse relutante em concorrer diretamente com o Atari 2600, o objetivo principal do time de desenvolvimento, era superar o console mais famoso, oferecendo gráficos e jogabilidade superiores.

Estrategicamente, em 1979, a Mattel fez um teste de mercado com o seu novo console, batizado de Intellivision, antes de lançá-lo oficialmente em 1980. O teste foi realizado em 12 cidades nos Estados Unidos e Canadá, e envolveu cerca de 1.000 consumidores. Essas pessoas foram convidadas para então testar o Intellivision e fornecer feedback sobre seu design, jogabilidade e preço sugerido para o um possível lançamento, afim de avaliar posicionamento ideal. O feedback dos consumidores foi muito positivo. Todos ficaram impressionados com os gráficos e a jogabilidade, gostaram da variedade dos jogos apresentados e consideraram a sugestão de preço justa. Sendo assim, a Mattel decidiu lançar o Intellivision oficialmente no ano seguinte.

O Intellivision foi um sucesso comercial, e se tornou um dos consoles de videogame mais populares dos anos 1980, graças a esse lançamento feito de uma forma mais inteligente.

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Marketing e Recepção do Intellivision

Para garantir o sucesso na recepção do Intellivision, a Mattel lançou uma campanha de marketing agressiva. Eles recrutaram George Plimpton, um famoso escritor e personalidade da mídia, para promover o console. Plimpton apareceu em comerciais de TV, destacando os gráficos avançados e o controle inovador do Intellivision.

Em 1980 as práticas do mundo do marketing e da propaganda era muito diferente de hoje. Atualmente, muitas propagandas da época poderiam seriam consideradas politicamente incorretas e ofensivas, sendo rapidamente derrubadas com a atual “cultura do cancelamento”.

Comercial da Mattel George Plimpton
Intellivision Comercial de TV – Imagem: George Plimpton

Em muitos comerciais as propagandas faziam comparações diretas e agressivas entre o console líder de mercado da Atari e o Intellivision. – “Once you compare, You’ll know”

Mesmo custando U$299,00 em seu lançamento, as campanhas surtiram efeito e atraíram a atenção do público que passou a considerar o Intellivision uma novidade realmente interessante.

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O console foi bem recebido pelos críticos e pelo público em geral. Muitos elogiaram seus gráficos superiores e jogabilidade envolvente. O design do aparelho recebeu um acabamento luxuoso, com arremates dourados e em madeira, seguindo a tendência dos eletroeletrônicos Premium da época.

Biblioteca de jogos do Intellivision


O lançamento chegou com uma biblioteca inicial de nove jogos e o console vinha com o popular jogo “Las Vegas Poker & Blackjack”. Os jogos eram distribuídos em cartuchos e sua biblioteca incluía uma boa variedade de gêneros, como esportes, jogos de ação, jogos de quebra-cabeça e jogos de aventura. Essa diversidade de titulos foi um dos fatores que impulsionaram as vendas do Intellivision logo de cara, tornando-o uma ameaça séria ao domínio do mercado pela Atari. E o catálogo de jogos do continuou a crescer nos anos seguintes, chegando a mais de 200 jogos.

8 Cartuchos do Intellivision
8 Cartuchos do Intellivision – bonuslifecomputers

Podemos destacarmos aqui alguns dos clássicos da época que foram grandes sucessos de vendas:

  • Astrosmash (1982) – Um jogo de tiro espacial em que os jogadores controlam uma nave espacial que deve destruir asteroides e meteoros. Um clássico da época.
  • Bowling (1980) – Um jogo de boliche em que os jogadores podem jogar contra amigos ou sozinho.
  • Burger Time (1982) – Um jogo de plataforma em que os jogadores controlam um chef que deve montar hambúrgueres, evitando inimigos.
  • Championship Bowling (1981) – Um jogo de boliche oficial com gráficos e jogabilidade realistas.
  • Championship Boxing (1982) – Um jogo de luta de boxe em que os jogadores podem jogar contra seus amigos ou apenas sozinho. Um dos primeiros jogos de luta PvP da história.
  • Donkey Kong (1982) – Foi um port do jogo de arcade em que os jogadores controlam um macaco, ir escalando o level desviando dos inimigos. Foi um sucesso no Super Nintendo, mas não foi quando surgiu a franquia.
  • Evel Knievel – Stunt Cycle (1982) – Um jogo de corrida em que os jogadores controlam o motociclista/duble Evel Knievel que deve realizar acrobacias.
  • Football (1980) – Um jogo de futebol americano em que os jogadores podem competir contra seus amigos ou sozinhos, contra a máquina.
  • Lock ‘n’ Chase (1982) – Um jogo de plataforma em que os jogadores controlam um caçador de vampiros que deve derrotar vampiros e fantasmas.
  • Intellivision World Series Baseball (1982) – Um jogo de beisebol licenciado pela Major League Baseball em que os jogadores podem competir contra seus amigos ou contra a máquina.

E, pela primeira vez na história, os jogos de esportes passaram a ser licenciados por associações esportivas como a NBA em jogos de basquete. Foi o primeiro passo para um futuro que temos hoje como FIFA, UFC, WWE entre outros licenciamentos.

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Os primeiros jogos do Intellivision foram criados por um time de desenvolvedores da própria Mattel Eletronics

Especificações Técnicas do Intellivision

Para a época, o Intellivision impressionava com suas especificações técnicas e inovações notáveis. Apostando na robustez de hardware, a Mattel equipou o console com um microprocessador de 16 bits, o que era uma melhoria significativa em relação aos 8 bits do Atari 2600. Para se ter uma ideia do que estamos falando aqui, a arquitetura de 16 bits só foi amplamente adotada pelo mercado na geração do Super NES e Sega Genesis (4ª geração de consoles). Esse CPU permitia um maior poder de processamento, possibilitando gráficos mais detalhados e uma jogabilidade mais rica em recursos e possibilidades. Além disso, foi o primeiro console a ter sistema operacional, o Executive ROM (EXEC).

  • CPU – General Instrument CP1610 (Arquitetura de 16-bits)
  • Vídeo – General Instrument STIC AY-3-8900/AY-3-8900-1 (Resolução de 159×96 px, em 16 cores e até 8 sprites simultâneos)
  • Memória –  RAM:1456 bytes / ROM: 7168 bytes
  • Áudio – General Instrument AY-3-8914 (3 canais)
  • Conexões -Apenas o cabo RF/RCA para imagem era removível. Cabo de alimentação e controles eram fixos no aparelho. Entrada para cartuchos era na lateral.

É importante mencionar que, mesmo tendo um processador muito avançado, que só seria adotado na quarta geração de consoles, o Intellivision era limitado em muitos casos pela quantidade de memória RAM/ROM, que impedia o aproveitamento de 100% do que o CPU poderia entregar. Esse ponto fraco do projeto foi justamente o fator que fez ele perder o título de console mais poderoso da segunda geração para o ColecoVision.

Joystick, Módulos e Acessórios

Além dos joysticks diferenciados, o Intellivision recebeu muitos acessórios e módulos de expansão interessantes. Vamos destacar apenas alguns:

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  • Joysticks – Começando pelos controles, eles eram dois joysticks integrados, conectados de forma fixa por cordões espirais, igual aos antigos telefones fixos da época. Eles possuíam um teclado numérico de 12 teclas, 4 botões de ação (2 em cada lado) e um disco direcional de 16 posições. Embora seja um controle inovador para a época, exigia uma certa adaptação por parte do jogador para se acostumar com o disco direcional. Nesse detalhe, o controle divide opiniões: Há quem goste, há quem diga que foi um ponto negativo na construção.
Intellivision Joystick
Intellivision Joystick – Imagem: Evan-Amos/Wikipédia
  • Key Board Component – Era módulo onde o console era acoplado e transformava o conjunto numa espécie de computador. Ele foi desenvolvido pela própria Mattel Electronics e lançado em 1981. A ideia era permitir que os usuários jogassem jogos educacionais e usassem o Intellivision para tarefas de produtividade como um PC. Possuía teclado QWERTY, microfone, deck de fita cassete, conexão para impressoras. Era ideal para os jogos educacionais que estavam se tornando tendência na época. Mesmo sendo bastante inovador, o periférico não fez muito sucesso nas vendas graças ao seu preço elevado.
módulo do Intellivision - Keyboard Component
Intellivision Keyboard Component – Imagem: Daniel McConnell (TrojanDan)/Wikipédia
  • Intellivoice – O Intellivoice é módulo de som, também lançado em 1981 pela Mattel Electronics. Ele foi projetado para adicionar som digital ao Intellivision. Era plugado na entrada de cartuchos do console e adicionava novas funções como gravar voz graças ao microfone embutido, e tinha como tinha um também um sintetizador de som digital, ele podia produzir uma variedade de sons, incluindo fala robótica, música e efeitos sonoros. Claro que tudo isso com uma limitação devido a quantidade de memória. Mesmo assim, foi um sucesso comercial, vendendo mais de 1 milhão de unidades até 1983, quando foi descontinuado.
Mattel Intellivoice - Módulo de som digital acoplavel
Mattel Intellivoice – Imagem: Evan-Amos/Wikipédia
  • PlayCable – No ano seguinte, em 1982, a Mattel, mais uma vez visionária, lançou um dispositivo capaz de se conectar ao serviço de assinatura de “TV a Cabo” e fazer download de jogos. O módulo era plugado na entrada de cartuchos do console e no cabo de sinal de TV. Nessa altura a General Instruments, fabricante dos chips do Intellivision, fechou uma parceria com a Mattel, dando origem ao serviço chamado de PlayCable Company. Seria esse um vislumbre da mídia digital que temos hoje? O serviço fez sucesso nas áreas de cobertura, que não foi muito ampla, e deixou um legado. Infelizmente, o serviço não durou muito tempo devido a fatores como área de cobertura e limitações da própria tecnologia da época.

Apesar do sucesso inicial, o Intellivision logo enfrentou uma concorrência intensa. A Atari respondeu lançando títulos exclusivos para o seu console e oferecendo acordos vantajosos para desenvolvedores de jogos. Além disso, outras empresas, como a Coleco (com o ColecoVision), também entraram na briga.

Intellivision Playcable - acessório
Intellivision Playcable – Imagem: history.blueskyrangers

A Guerra dos Consoles

A competição acirrada entre esses consoles ficou conhecida como a “Guerra dos Consoles” dos anos 80. Cada empresa tentava conquistar o maior número possível de consumidores, investindo pesadamente na publicidade agressiva e desenvolvimento de jogos exclusivos.

Apesar do sucesso inicial, o Intellivision logo enfrentou uma concorrência intensa. A Atari respondeu lançando títulos exclusivos para o seu console e oferecendo acordos vantajosos para desenvolvedores de jogos. Além disso, outras empresas, como a Coleco (com o ColecoVision), também entraram na briga.

O Intellivision apresentava vários pontos fortes que o diferenciavam de seus concorrentes. O controle inovador e o processador de 16 bits permitiam experiências de jogo mais ricas e envolventes. Além disso, a Mattel Electronics teve o mérito de oferecer uma grande variedade de jogos, que atraíam diferentes públicos, desde jogos esportivos até aventuras e quebra-cabeças.

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Por outro lado, o console tinha algumas desvantagens notáveis. Devido à sua complexidade e inovação, o Intellivision tinha um custo de produção muito mais elevado, o que refletia no preço final de varejo. Isso o tornava menos acessível do que o Atari 2600, que tinha uma presença estabelecida no mercado. Além disso, a Atari tinha uma base de fãs já consolidada, o que tornou difícil para o Intellivision ganhar uma fatia significativa do mercado de consoles.

Mas, o grande fator que fez tudo vir abaixo foi o fenômeno conhecido como “Crash da indústria do vídeo games” que chegou com força já em 1983 e gerou um enorme desaquecimento no mercado. Houve uma saturação na oferta e, consequentemente, uma queda na qualidade das produções. Tudo parecia mais do mesmo, só que com cores e temas diferentes e os consumidores começaram a perder o interesse. Em 1984, as empresas foram forçadas a fazer cortes nos preços, entretanto, o mercado não foi capaz de se recuperar e esse período perdurou por muito tempo.

No Brasil

O Intellivision também deu as caras no Brasil, em dezembro 1983, graças a uma parceria com a Gradiente, que acreditava que o console iria ser um sucesso no pais. O Intellivision era um console mais avançado do que os outros consoles que estavam disponíveis no Brasil na época, e ele chegou aqui com uma biblioteca de 11 jogos, sendo que foram lançados mais títulos posteriormente. Mesmo assim, a biblioteca de lançamento era interessante e o público aderiu bem.

O console era mais caro do que os outros consoles e a Gradiente teve que oferecer uma série de descontos e promoções para tornar o console mais acessível aos consumidores brasileiros. O Intellivision foi um sucesso de vendas em seu lançamento no Brasil, vendendo o primeiro lote de 15 mil unidades rapidamente.

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Devido a dificuldades da Mattel nos EUA, ele foi descontinuado no Brasil no ano seguinte, em 1984. Mas, ainda é lembrado como um dos consoles mais importantes da história dos videogames por aqui.

O Legado

O legado do Intellivision conta com um sucesso comercial, vendendo mais de 3 milhões de unidades só nos Estados Unidos e isso abriu oportunidade para a Mattel fechar grandes parcerias. Várias empresas licenciaram o Intellivision e puderam lançar suas próprias versões do console. Empresas como a Sears, que lançou o “Sears Tele-Games Super Video Arcade”, por exemplo trazia o Intellivision com uma roupagem diferente, mas ainda era o mesmo console por dentro.

O hardware robusto do Intellivision foi notável na história dos videogames, sendo o primeiro console a utilizar processador de 16 bits, além de uma variedade de jogos e acessórios muito além do seu tempo. O console da Mattel enfrentou a concorrência da Atari e da Coleco, mas conseguiu se destacar pela sua qualidade e inovação. Apesar da dificuldade no mercado, o Intellivision ganhou novas versões (inclusive o Intellivision II) e foi descontinuado apenas em 1991, deixando um legado que influenciou gerações de consoles e jogadores. A Mattel inovou e provou que era capaz de fazer mais do que bonecos de brinquedo. Mais do que isso, ela “subiu a régua” no nível de desenvolvimento dos videogames e colocou a Atari em movimento.

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