O drama “Marry My Husband”, que possui 16 episódios, como de costume em uma obra sul-coreana, veio a público com exclusividade na plataforma Amazon Prime Video. Já na Coreia do Sul, a produção foi ao ar pela emissora tvN, entre janeiro e fevereiro de 2024. Promissor, a trama que parece uma grande novela mexicana, conquistou uma enorme audiência desde o início deste ano.
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Inspirada em um webtoon de Seong So Jak, a trama de “Marry My Husband” ou “A Esposa do Meu Marido” em português, foi habilmente desenvolvida pelo roteirista Shin Yoo-dam (conhecido por seu trabalho em “Awaken” e “High End Crush”). Enquanto isso, a direção ficou a cargo de Park Won-gook de “The Emperor: Owner of the Mask”.
A história gira em torno de Kang Ji-won, papel interpretado pela sempre brilhante Park Min-young, que, após tragicamente morrer pelas mãos de seu próprio marido, volta no tempo uma década para o passado, antes mesmo de se casar com ele. Determinada a reescrever seu destino e evitar seu trágico fim, ela embarca em uma jornada para mudar as circunstâncias que levaram à sua morte, focando principalmente em sua falsa melhor amiga, responsável por sua traição.
Ao decidir remodelar sua vida, Ji Won arquiteta um plano para casar sua “amiga” Jeong Su-min com Park Min-hwan. Enquanto isso, no ambiente profissional, Yoo Ji-hyuk, que ocupa o cargo de chefe no mesmo departamento que Ji Won, nutre grandes sentimentos por ela, que acabam aos poucos se revelando. Porém, ele guarda consigo um segredo que pode impactar profundamente a trama e os destinos de todos os envolvidos.
A Trama de Marry My Husband
Os primeiros episódios de “Marry My Husband” mergulham os espectadores no intenso drama da vida da protagonista, Kang Ji-Won (interpretada por Park Min-young), deixando-os ansiosos por mais. Afinal, Ji Won enfrenta uma série de desafios: seu marido, Min Hwan, abandonou o emprego e acumula dívidas com o dinheiro dela; sua sogra é uma fonte constante de tormento. Além disso, ela é subestimada no trabalho, apesar de ser muito boa no que faz, e recentemente recebeu o devastador diagnóstico de câncer em estágio avançado, com poucas esperanças de sobrevivência.
Mas a situação atinge seu ápice quando Ji Won flagra sua melhor amiga, Su Min, na cama com seu marido, com planos de conseguir dinheiro do seguro que receberão após a morte dela, após o marido, ter feito um “seguro de câncer”. Mesmo debilitada pela doença, Ji Won confronta os traidores e se envolve em uma briga física, resultando em uma agressão fatal por parte de seu marido.
Contudo, de maneira misteriosa, Ji Won não morre de fato. Ao abrir os olhos, ela se vê de volta a 2013, exatamente uma década antes de sua morte planejada. Nos dezesseis episódios seguintes de “Marry My Husband”, acompanhamos Ji Won aproveitando essa segunda chance para reescrever seu destino, arquitetando planos contra seu então namorado Min Hwan e a traidora melhor amiga. Enquanto isso, ela descobre novas oportunidades de amizade e romance, escapando dos relacionamentos tóxicos que marcaram sua vida anterior. Agora, com a chance de mudar seu destino, Ji Won está determinada a garantir que Su Min se case com Min Hwan e assuma seu destino cruel, dando assim origem ao título do drama, que no caso, meio que significa “Case com Meu Marido”.
Elenco e Personagens
Park Min-young, uma atriz consagrada em comédias românticas como “Clima do Amor”, “What’s Wrong with Secretary Kim”, “Healer” e “City Hunter”, enfrentou desafios durante as filmagens, que vou contar mais abaixo. No entanto, ela entregou uma performance vibrante e delicada, como de costume. Nos primeiros episódios, Park já mostra que esse será um dos trabalhos mais marcantes de sua carreira.
A sua personagem, Kang Ji-won, tem uma obsessão, a de evitar sua trágica história, que a levou a um ciclo de sofrimento e vingança, muitas vezes às custas de sua própria felicidade. Desse modo, Park Min-young, conhecida por papéis dramáticos, esforçou-se especialmente nesse papel, chegando a pesar 37 quilos ao se dedicar ao personagem. Sua interpretação captura perfeitamente a angústia de Ji Won, passando por várias emoções, desde raiva e dor até o desejo genuíno de vingança e a busca pela felicidade.
Na In-woo de “Mr. Queen”, está adorável no papel de Yoo Ji-hyuk, o neto secreto do CEO onde ela trabalha. Ele também ganha uma segunda chance após morrer em um acidente de trânsito, querendo ajudar a sua funcionária a ter uma vida melhor, de preferência ao seu lado. O personagem carece de uma história própria mais desenvolvida. Embora seja fofo que ele viva em função da protagonista, suas ambições são simples e o enredo envolvendo sua noiva é o mais fraco da série. Seus gestos e olhares são realmente apaixonantes, e ele demonstra isso muito bem.
Enquanto isso, outros nomes do elenco também tiveram uma grande entrega de emoções nestes primeiros capítulos, com destaque para Lee Yi-kyung como Min Hwan. O astro, que já havia interpretado o puro alívio cômico em Welcome to Waikiki (2018), consegue irritar o espectador de “Marry My Husband” com sua representação perfeita de um homem abusivo. Eu acho que em toda minha vida de dorameira, nunca senti tanta raiva de um personagem masculino igual o dele. Um homem péssimo, problemático, mimado, e abusador.
Já Song Ha-yoon de “Lutando pelo meu Caminho”, é com certeza, uma das maiores atuações de “Marry My Husband”. Que entrega, a personagem é cheia de camadas, ao interpretar uma amiga falsa. É uma vilã que se faz de vítima e de boazinha, mas até o final vai dizer que é o mundo que é contra ela. No começo, ainda não temos certeza das intenções da sua personagem, ela consegue enganar o público, apesar de sabermos que no final, será uma má pessoa. Mas seu “amor” por sua “alma-gêmea”, como ela mesmo diz, parece ser tão real, como uma obsessão. Mas somente nos últimos capítulos entendemos toda a sua motivação, algo que eu não esperaria de início.
A presença da cantora BoA, um ícone do K-pop e J-pop há anos, surge como a ex-noiva do protagonista e traz uma subtrama desequilibrada e repleta de clichês, desviando o foco do enredo principal. Para mim, a única atuação desnecessária, que simplifica e ao mesmo tempo destrói tudo o que foi criado de bom nos primeiros capítulos da obra. Afinal, a história não acrescenta em nada e, ao mesmo tempo, se torna o foco do final da trama. Mas desvia o caminho para algo que não queremos no momento.
No entanto, vale ressaltar o “casal” formado por Gong Min-jung (Hometown Cha-Cha-Cha) e Ha Do-kwon (A Cobertura ), cuja história paralela adiciona um toque de realidade e emoção à trama. Gong, que interpreta Yang Joo-ran na trama, começa bem tímida, mas aos poucos, seu personagem vai se tornando muito importante para toda a trama e de real entendimento para o que vem a seguir. Afinal, a mesma, assim como Ji Won, é casada com um homem folgado e abusivo. Mas claramente, Ha, que interpreta Lee Suk-jun, advogado da empresa da trama, U&K, tem uma queda por ela, e também vai ajudar.
Por fim, outro casal secundário, Choi Gyuo-ri como Yoo Hui-yeon e Lee Gi-kwang como Baek Eun-ho, perdem muito tempo de tela, devido à trama de Oh Yu-ra, a ex-noiva de Yoo Ji-hyuk. Apesar de funcionarem bem juntos, não sabemos mais detalhes do relacionamento que começou a enganar nos episódios finais da trama.
Aplausos para a vilã de “Marry My Husband”
Muitas vezes, o segredo de uma novela é apresentar uma boa vilã. E a tal da “A Esposa do Meu Marido” entrega tudo nisso, dando um tempero que faltava à trama. Song Ha-yoon brilha como Jeong Su-min, a melhor amiga manipuladora de Ji won. Afinal, sua atuação é uma âncora essencial que mantém o interesse do espectador mesmo nos momentos mais arrastados da trama. Ha-yoon habilmente retrata a dualidade de Su min, alternando entre sorrisos falsos e momentos de intensa vulnerabilidade, tornando-a uma personagem complexa e surpreendentemente compreensível em sua malícia.
Sua habilidade em roubar todas as conquistas de Ji-won adiciona uma camada extra de intriga à narrativa, mantendo os espectadores ansiosos por mais reviravoltas. Com sua presença cativante, Song Ha yoon eleva a obra, destacando a importância fundamental de uma vilã bem desenvolvida para o sucesso do enredo. Além disso, o fato de ela colocar a culpa de tudo o que acontece de ruim com ela nos outros é absurdamente marcante em sua atuação, nunca se colocando abaixo de ninguém.
Ritmo
“Marry My Husband” começa de forma envolvente, mas aos poucos perde o ímpeto ao reciclar enredos e entrar em um ciclo repetitivo. No fim, a narrativa segue uma fórmula previsível, repetindo-se a cada três episódios: a protagonista continua no relacionamento por um sentido de destino, seu marido comete atos questionáveis, sua amiga enfrenta problemas morais e o neto do CEO intervém. Essa repetição torna-se um tanto irritante, embora a programação gradualmente melhore um pouco no final.
No entanto, o maior problema surge na trama secundária envolvendo a ex-noiva, papel da cantora BoA. As inserções de elementos criminais e vingativos, apesar de inicialmente empolgantes, tornam-se excessivas, prejudicando a qualidade da narrativa. Isso resulta em uma trama que tinha tudo para ser excelente, mas empobrece o roteiro, lembrando dramas exagerados, perdendo assim a oportunidade de explorar de forma mais significativa os outros casais que fazem parte da história.
Construindo Emoções
O drama se destaca pelo excelente trabalho de direção e produção, que se reflete até nos menores detalhes da história. Uma cena emblemática é a do carro no primeiro episódio, envolvente tanto pelo enredo sensível quanto pela deslumbrante ambientação, que antecipa dias melhores para Ji won através de paisagens belíssimas.
Por outro lado, a impactante cena da briga fatal entre a protagonista e seu marido é meticulosamente construída e coreografada. Utilizando efeitos especiais quase imperceptíveis, a direção garante a segurança da atriz sem comprometer a intensa tensão que a cena transmite aos espectadores.
Polêmicas
As polêmicas envolvendo Park Min-young e seu ex-parceiro na vida real, assim como a controvérsia relacionada ao conteúdo presente no webtoon original, que foi excluído da adaptação televisiva, geraram um impacto significativo na recepção internacional do dorama.
Explicando melhor, foi revelado que o relacionamento da atriz com o empresário Kang Jong-hyun, conhecido por suas conexões com a indústria de criptomoedas, desencadeou investigações sobre sua possível cumplicidade em atividades ilegais, suscitando questionamentos sobre sua integridade e afetando sua reputação.
A proibição de deixar a Coreia do Sul pela Procuradoria do Distrito de Seul, enquanto estava sob investigação, agravou ainda mais a situação, gerando uma reação ambígua em relação ao seu novo dorama. No entanto, Park e seus advogados negaram todas as acusações, mas sabendo como funciona a Coreia do Sul, um país rigoroso, sabemos que isso pode afetar muito a recepção do público.
Além disso, tal controvérsia coincidiu com outra situação relacionada ao conteúdo do webtoon original “Marry My Husband”, que foi excluído da adaptação televisiva devido a referências e narrativas consideradas discriminatórias em relação ao Islã. Afinal, o Webtoon possuía uma parte sobre uma linha de produtos halal introduzida por uma empresa enfrenta reações negativas extremas, incluindo referências a grupos islâmicos radicais. Por fim, a editora do quadrinho realizou alterações nas partes controversas da história na versão em inglês, emitindo um pedido de desculpas e prometendo ser mais cautelosa no futuro em relação ao conteúdo culturalmente apropriado.
Conclusão de Marry My Husband
“Marry My Husband” é um excelente k-drama que aborda de forma habilidosa as complexidades das relações abusivas. O roteiro de Shin Yoo-dam mantém constantemente em foco o conceito sobre o cerceamento, isolamento e controle exercidos pelas pessoas abusivas sobre suas vítimas. Além disso, a série do Prime Video compreende esse processo alarmantemente bem, retratando a ameaça da solidão e a subjugação da identidade da pessoa abusada.
Enquanto isso, a trama traça paralelos dramáticos entre a jornada de Ji won e os padrões de relacionamento de outros personagens, como Ji hyuk e a Sra. Yang, explorando suas lutas por autonomia em meio às pressões familiares e sociais. A série destaca personagens cuja ambição é casar com indivíduos positivos para alcançar um crescimento pessoal, contrastando com a exigência do mundo corporativo em que vivem.
O discurso final de Ji won, ao reconhecer que não se tornou uma pessoa maravilhosa da noite para o dia, é emocionante e revela a crônica incompletude da atualização pessoal. O último episódio é especialmente satisfatório, proporcionando momentos de gratificação para os espectadores. Inclusive, para os casais secundários, destacando a potencialidade da série sem o foco excessivo na vilã.
Em suma, “A Esposa do Meu Marido” é uma obra que além de entreter, também provoca reflexões sobre as dinâmicas complexas das relações humanas e os desafios enfrentados na busca por autonomia e crescimento pessoal. Com um roteiro perspicaz e performances envolventes, a novela cativa o público ao explorar temas relevantes de maneira sensível e impactante.
Por fim, “Marry My Husband” é uma obra que além de entreter, também provoca reflexões sobre as dinâmicas complexas. No caso, as relações humanas e os desafios enfrentados na busca por autonomia e crescimento pessoal. Com um roteiro perspicaz e performances envolventes, a novela cativa o público ao explorar temas relevantes de maneira sensível e impactante. Além disso, conquistou ainda mais o público brasileiro, pela narrativa que se assemelha muito às adoradas novelas mexicanas.