“Normal People” é uma série irlandesa produzida pela Element Pictures em parceria com a BBC Three e o serviço de streaming Hulu. No Brasil, a produção foi lançada pelo Amazon Prime Video em meados de 2020, durante o auge da pandemia do Covid-19.
À primeira vista, a série pode parecer mais do mesmo, mas com muita profundidade, a história foge completamente dos clichês adolescentes. Embora a sinopse oficial fale sobre um relacionamento entre dois jovens de mundos diferentes que se conhecem no ensino médio, a série vai muito além disso. “Normal People” é, sem dúvida, uma das mais belas histórias românticas retratadas, com uma profundidade que transcende o gênero.
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Desse modo, “Normal People” apresenta uma trama apaixonada, mas de forma lenta e melancólica. Junto a isso, temos também um vislumbre de uma relação crua, real e muito dolorosa. A série combina tudo isso ao retratar relacionamentos tóxicos, problemas financeiros, relações de dependência e, por fim, conflitos familiares.
Durante todo o desenrolar dos episódios, o espectador anseia que o casal consiga superar todos esses problemas, mas isso está muito longe de acontecer. A série nos mostra que, muitas vezes, as relações não são fáceis e podem ser complicadas, mesmo quando há amor envolvido. “Normal People” é uma história intensa e complexa que aborda questões importantes sobre a vida e os relacionamentos.
O seriado é baseado no segundo livro de Sally Rooney, que possui o mesmo nome e foi publicado em 2018. Apenas um ano depois, a adaptação para a televisão foi confirmada, com 12 episódios encomendados pela BBC e Hulu. As filmagens começaram no mesmo mês do anúncio.
O drama psicológico contou com o roteiro de Rooney em conjunto com Alice Birch. A direção dupla é do indicado ao Oscar, Lenny Abrahamson e Hettie Macdonald, sendo que Abrahamson dirigiu os seis primeiros episódios e Macdonald os seis últimos.
Devido ao sucesso do livro, que foi um dos mais vendidos no ano do seu lançamento, a série era muito esperada. Afinal, o livro é considerado um clássico contemporâneo, e os fãs esperavam que a adaptação para a tela fosse igualmente digna. E, posso afirmar que foi. Afinal, a série conseguiu capturar a essência do livro e entregou uma retratação fiel da história de Marianne e Connell. O sucesso do livro só aumentou a expectativa em relação à série, mas a produção não decepcionou e se tornou um sucesso por si só.
A história é sensível e de tirar o folego, mas também apresenta cenas onde nos sentimos invadido a privacidade dos protagonistas. Por falar neles, são seus intérpretes que provavelmente já garantiram de imediato o sucesso da trama. ATENÇÃO! a análise a seguir, terá spoilers da trama a que se refere.
Assista “Normal People” no Amazon Prime Video →
Elenco de Normal People
Vamos começar pelos protagonistas de Normal People, Marianne e Connell, interpretados por Daisy Edgar Jones e Paul Mescal, respectivamente. Quem esteve de olho no Oscar deste ano já deve ter reconhecido o rosto de Mescal, que concorreu na categoria de Melhor Ator por Aftersun. Além disso, o ator de apenas 27 anos já protagonizou obras consagradas como A Filha Perdida (2021) além de Carmen (2022), e será o novo protagonista de Gladiador 2, sequência direta do clássico filme de 2000.
Enquanto isso, Daisy Edgar-Jones, de apenas 22 anos, estrelou produções como “Um Lugar Bem Longe Daqui” e “Em Nome do Céu” (2022). Apesar de ser um rosto jovem, sua atuação em “Normal People” é excelente, demonstrando maturidade e talento bem acima do normal.
Outros nomes do elenco incluem Sarah Greene, que interpreta Lorraine, a mãe de Connell, e que por si só, já entrega um trabalho ótimo. Enquanto isso, Aislín McGuckin vive Denise Sheridan, mãe de Marianne, e também oferece uma atuação marcante, que é exigida pelo personagem. Além disso, Éanna Hardwicke, Eliot Salt, India Mullen, Fionn O’Shea, Noma Dumezweni e outros completam o elenco de forma competente.
Trama de Normal People
O foco de “Normal People” é totalmente e exclusivamente a retratação do relacionamento entre Marianne e Connell, dois jovens estudantes que vivem na pequena cidade de Sligo, no interior da Irlanda. Assim, ao longo dos doze episódios com menos de 30 minutos cada, acompanhamos a relação entre os dois que começa a surgir nos primeiros minutos.
Marianne é uma jovem excêntrica, tímida, áspera e, apesar de rica, não se importa muito com sua posição social. A menina, considerada a mais inteligente da escola, sofre bullying por sua aparência, afinal, segundo seus amigos, ela é “feia, magra e sem peito”. Por ser muito solitária e sua família ter dinheiro, os mais “populares” do colégio estão sempre a intimidando, alegando que ela é arrogante.
Ou seja, Marianne não é nada além da “garota esquisita” que vaga em silêncio pelos corredores da escola. Mas isso não quer dizer que ela não lide com as coisas do seu próprio jeito. Afinal, apesar dos confrontos, responde aos agressores com palavras cortantes. Mas não é só a escola que é um terror para a garota, afinal, em casa, sua mãe Denise e seu irmão Alan também fazem da vida da garota um inferno. Além disso, em determinado momento, entendemos que o pai dela, que já morreu, abusava da sua mãe.
Enquanto isso, Connell pode ser considerado seu oposto. O jovem atleta é bonito, musculoso, popular e carismático. Contudo, também é um tanto quanto quieto, muito inteligente e apaixonado por livros. Mas o detalhe principal vem aí. São os melhores amigos de Connell os responsáveis por fazer bullying contra Marianne.
Mas o início da história do casal também tem fatores que vão além da escola. No caso, a mãe de Connell trabalha como empregada doméstica na família rica de Marianne. E mesmo nunca se falando na escola, é a partir desse detalhe que os protagonistas realmente se aproximam.
Ou seja, por ser pobre, o garoto ainda não consegue entender o que pode ser da sua vida e não tende a pensar em um futuro além daquele que o permite. Mas também é a diferença de classe social a maior responsável pelo relacionamento complicado que eles começam a ter, o que impede que eles se entreguem por completo.
De início, Marianne se vê apaixonada por Connell, que em pouco tempo acaba correspondendo aos seus sentimentos. Apesar disso, eles decidem não revelar a ninguém que estão ficando, afinal, isso seria “demais” para a popularidade do protagonista. Com muita tensão sexual e cenas de sexo que começam desajeitadas, a química do casal e a troca de olhares mostra que realmente os dois estão se apaixonando.
Contudo, é claro que essa relação é muito mais do que sexual para ambos, é nítido no olhar e como ambos se comunicam. Mas tão jovens, e com tantas inseguranças, ambos não conseguem entender o que tudo aquilo significa, muito menos demonstrar ou até mesmo assumir. Assim, surge o primeiro rompimento do casal, quando Connell parte o coração da nossa protagonista, e convida outra garota para o baile de formatura.
Ai você pode até pensar, mas baile de formatura, adolescentes se apaixonando, essa história não era para ser mais que isso? Sim, e é, o problema é que de uma maneira muito diferente e crua, entendemos o impacto dessa decisão com a extrema baixa-estima de Marianne, e como isso se choca. Afinal, apesar de não assumirem, além do sexo corriqueiro, os dois conversaram sobre o futuro, não juntos, mas apenas sobre o futuro que Connell ainda não sabia.
De muitas formas, Connell permite que seus “amigos” sejam malvados com a parceira, mesmo estando juntos. Embora ela não demonstre se importar, e de nenhuma maneira ela diz isso, a trama faz o espectador se tornar íntimo do casal, como se estivesse lá com eles. Assim, entendemos que o relacionamento que fica somente entre quatro paredes é um tanto quanto desigual para ela.
Por fim, Marianne sai da escola e decide terminar seus estudos em casa, enquanto termina o que eles tinham. Apesar de não se falarem mais, no fim, Connell deixa uma mensagem de voz para Marianne, revelando que a ama, mas ela nunca responde essa mensagem.
Mais tarde, eles voltam a se encontrar na Universidade de Trinity, em Dublin, após Marianne ser admitida em Ciências Políticas e Connell em Inglês, como a garota disse que ele tinha vocação. A partir desse momento, os protagonistas praticamente trocam de lugar. Afinal, os “defeitos” que pensavam que a jovem tinha, como ser esquisita, é o que faz com que ela se destaque na vida social e nos seus relacionamentos na universidade. Mas além disso, a garota amadurece, em uma aparência mais adulta, roupas, cabelo e usando maquiagem.
No entanto, o exato oposto está acontecendo com Connell, que antes era o cara popular da escola, é apenas um estudante solitário no campus. Além disso, o rapaz sente saudade da escola e dos amigos, e não consegue se sentir ligado à cidade grande. Mas em uma festa dada por um colega de classe do protagonista, é que ambos se reencontram.
No início, ambos decidem ser amigos, o que se torna praticamente impossível devido aos sentimentos que ainda possuem um pelo outro. Com o passar dos dias, os dois assumem que estão saindo um com o outro. A princípio, tudo parece correr bem, mas logo percebemos que existe um problema maior vindo. Afinal, Marianne é insegura, enquanto Connell está com problemas financeiros.
Mas só vendo a série para entender melhor o que está acontecendo. No caso, a insegurança de Marianne é devido a todos os problemas do seu passado, tanto com sua família quanto na escola e até mesmo por Connell não ter admitido o relacionamento no início.
Enquanto isso, Connell, que nunca teve dinheiro, sente que ele não tem o bastante e está sempre se retratando de forma inferior a ela. Ao perder seu emprego no restaurante, o jovem, que não sabe se comunicar muito bem, diz o que não queria dizer, dando a entender que gostaria de sair com outras pessoas.
Mas isso não era o que ele queria dizer. Ele queria ter pedido para Marianne para poder ficar com ela em seu apartamento em Dublin, mas não o fez com medo de se rebaixar e também porque ela não tinha entendido o recado. Tais limitações de palavras e a falta de simples diálogos e abertura de ambas as partes, principalmente Connell, que não consegue demonstrar seus sentimentos por ela, fazem com que o casal tenha seu segundo rompimento.
Connell volta para passar o verão em Sligo e acaba beijando uma das suas ex-professoras do colégio, enquanto Marianne começa um relacionamento com Jamie. Aí vem outra grande problemática da trama, afinal, o personagem é abusivo e repulsivo. Tudo o que Jamie faz é culpar Marianne por qualquer atitude que ela tome.
Um tempo passa e Connell e Marianne voltam a ser amigos, dessa vez, apenas amigos. A jovem convida o garoto e seu colega de quarto para passarem alguns dias em sua casa de veraneio na Itália. Nesse momento, apesar da presença insuportável de Jamie, é em uma ida ao mercado que Connell e Marianne conversam sobre o passado. Agora, tanto ela quanto ele são bolsistas, ele tem um alojamento grátis, e expõe que a diferença de classe entre eles afetou a sua visão do mundo. Principalmente, como isso foi o motivo para o segundo término no casal.
Em nenhum momento passou pela cabeça de Marianne que isso fosse um problema para ele. Afinal, devido à sua própria situação financeira, ela não entendia como isso poderia afetar os outros. Além disso, o rapaz admite pela primeira vez que está satisfeito e como sua vida mudou após ganhar a bolsa que cobria todas as suas despesas escolares.
Pela primeira vez, uma conversa esclarecedora surge entre o casal, o que reforça a sintonia entre a dupla. Ainda durante as férias na Itália, Jamie tem uma crise de ciúmes e o casal acaba se separando. Connell é quem fica do lado de Marianne, ao oferecer sua amizade e um espaço confortável, não deixando o relacionamento sair da amizade.
Mas é a partir dessa nova leva de episódios que estão por vir que a história começa a ficar mais complicada. Afinal, Jamie acabou deixando marcas profundas em Marianne, o que deve repercutir em todos os seus próximos relacionamentos. Jamie era abusivo e gostava de dominar, além disso, punia a garota verbalmente e até mesmo sexualmente.
Os resultados pós Jamie na vida de Marianne são vistos quando a jovem ganha uma bolsa de estudos e passa um tempo na Suíça. Seu próximo relacionamento amoroso perpetua em como ela se sente, que passa a se sentir amada apenas ao ser maltratada, assim praticando técnicas de sadomasoquismo com seu próximo parceiro, mesmo assim não sendo feliz.
Enquanto isso, Connell segue sua vida normal em Dublin, aparentemente vivendo um relacionamento saudável com outra mulher. Mas tudo desaba sobre sua vida após ele receber a notícia de que Rob, um dos seus melhores amigos do colégio, cometeu suicídio.
O suicídio de Rob também deixa marcas profundas em Connell, afinal, Rob, depois de deixar o colégio, não superou sua vida na escola e teve dificuldades de seguir em frente, sem a chance de um futuro melhor. Imediatamente, o protagonista passa a questionar a sua própria existência, não encontrando mais propósito na vida acadêmica, amigos e principalmente relacionamentos. Seu colega de quarto, vendo sua depressão aparente, indica que ele consulte uma terapeuta, e assim ele o faz.
Mas o mais incrível de tudo isso é que, apesar de toda tristeza, Connell percebe que o único vínculo realmente forte que tem na sua vida é Marianne. Nesse tempo, ele desenvolveu uma amizade realmente cheia de ternura e honestidade com ela, através de telefones e videochamadas. Por fim, entende tudo o que ela sempre significou para ele.
No verão, ambos os jovens voltam para Sligo para passar as férias, e mais uma vez se encontram pessoalmente. A princípio, tudo está indo bem em uma amizade, mas algo a mais surge, e uma das cenas mais penetrantes que vemos é quando o clima esquenta e Marianne pede que Connell pratique sadomasoquismo com ela. Imediatamente, o rapaz recusa, e a partir desse momento percebemos que isso foi como um teste, que constatava que ele realmente se importava com ela.
Na mesma noite, as coisas começam a se complicar ainda mais na família da protagonista, e seu irmão agressivo quebra seu nariz. A mãe, mais uma vez, vê tudo e não fala nada. O único que Marianne acredita que pode ajudá-la é claro, Connell, e assim ele faz. Ao buscá-la e indo embora de casa, os dois percebem que a cidade de Sligo não significa mais nada para ambos e agora, uma nova perspectiva de um casal se aproxima.
Chegando próximo do final da série, Connell e Marianne assumem de fato um relacionamento amoroso saudável. Com todas as boas coisas que isso pode trazer, como segurança, honestidade, compreensão, paixão e amor. Ambos amadureceram como pessoas, Marianne cultiva a vida tranquila que criou ao final dos anos da faculdade. Enquanto isso, o garoto terminou de escrever seu livro, que agrada aos críticos, tudo parece estar indo bem, e está.
Os momentos finais de “Normal People” são lindos, doloridos, tristes, e no caso, mais agridoce impossível. Connell recebe uma bolsa de estudos para Nova York, e mesmo sendo algo que queria e precisava, não pensava em aceitar para não deixar a namorada. Mas a moça, agora mulher, em uma conversa com os dois ao chão, sentados no novo apartamento de Marianne tomando chá, já sabe o melhor para o futuro.
Marianne pede que Connell vá para Nova York, e quando ele insiste que eles namorem a distância, ela ciente de si, adiante os dois não deviam criar amarras. Ou seja, não está claro, e nem marcado se os dois iriam voltar a ser um casal, e isso, apesar de parecer insatisfatório para alguns, só mostra a ligação profunda e pouco convencional cultivada por anos.
Com o encerramento, fica claro que toda a história de “Normal People” fala sobre uma série de coisas que nunca foram ditas. Com melodrama e drama, chegando próximo a tristeza profunda, Marianne e Connell, encerram a cena juntos, mas ao mesmo tempo separados.
Um Romance, Nada Romântico
Apesar de se tratar de uma história romântica, “Normal People” não é em nada uma série romântica. Deixando claro que não é nenhum conto de fadas, em uma história que faz jus à realidade de qualquer pessoa. Afinal, quando gostamos de alguém, na maioria das vezes, não temos um final feliz, e essa é a verdadeira realidade.
Outro motivo de “Normal People” ser tão perfeita, mas ao mesmo tempo tão triste, é a retratação das diferenças pessoais desde o nascimento, ao crescimento e amadurecimento de cada ser. Muitas vezes, algumas histórias tentam retratar o amor adolescente com diferentes classes sociais, mas tudo isso de forma tão banal, ao revelar personagens populares em contraponto com os nerds desajustados. E no final? Bem, normalmente é sempre um final feliz, mas não há aprofundamento algum, e nunca vamos conferir o que realmente aconteceu depois daquele final.
É por isso que a série referida trabalha um romance em nada romântico, onde nem todos os problemas têm solução e as idas e vindas desse relacionamento nem sempre trazem uma solução para os problemas. No final, cabe apenas ao telespectador escolher o final que mais agrada para Marianne e Connell.
Intimismo
“Normal People” é, acima de tudo, uma série sobre o amor entre duas pessoas, e sobre isso, também é sobre sexo. Aqui, sempre ressaltando a química entre os protagonistas, que desde o princípio, o relacionamento já começa com sexo. E nenhuma dessas cenas é gratuita, todas têm um propósito, e apesar de muitas, cada uma se encaixa perfeitamente.
Aqui, também é bom ressaltar o trabalho na divisão de seis episódios para o diretor Lenny Abrahamson e seis para Hettie MacDonald. Os primeiros trabalham de forma mais romântica, as cenas são perfeitamente coreografadas de forma íntima e real. A princípio, existe a vontade de transar de Marianne, uma garota virgem que tampouco foi beijada. Não é à toa que quem conduz as transas é Connell no começo, mostrando que Marianne, apesar de uma garota aparentemente empoderada, ainda é vulnerável.
É impossível descrever as cenas sem ver a série, afinal, é uma intimidade tão grande que nos sentimos intrusos entre eles. Nos últimos episódios, que contam com a direção de MacDonald, é nítido que algo mudou, mas tudo de maneira balanceada e de forma mais dinâmica possível. De maneira natural, assistimos ao sexo do jeito que é, quando algo não dá certo, ou risos e conversas durante o ato, algo que é pouco retratado em materiais televisivos.
Final Agridoce
Mais uma vez, aqui vamos destacar o final tão agridoce de “Normal People”. Afinal, de forma nada convencional, o fim apresenta uma cena longa com foco no casal, que no caso, sempre é o foco da trama. Ao se separarem, a conversa é franca e não há certezas sobre o futuro da dupla. Ou seja, apesar de todas as adversidades que eles passaram para “ficarem juntos”, essa maneira de mostrar um final sem garantias não é tradicional de se ver.
Apesar de não terem combinado se iriam ou não se reencontrar um dia, fica na cabeça dos telespectadores esse encerramento aberto. Mais uma vez, o roteiro exalta como a relação entre os protagonistas é profunda e nada convencional para entregar um final feliz. No caso, é nítido que um final satisfatório a favor do amor não se encaixaria de forma alguma com uma série tão profunda que vivemos em torno de 12 episódios. Em “Normal People”, o perfeito não combinado, perfeito, não é perfeito.
Plano de Fundo e Trilha Sonora
Grande parte da fotografia de “Normal People” foi feita em Sligo e em Dublin no meio de 2019. As cenas da faculdade foram realizadas no Trinity College Dublin, local que realmente existe na vida real. Por sinal, muitos alunos participando das filmagens como elenco de apoio. Em dois episódios, as gravações ocorreram no centro da Itália, em Sant’Oreste e seus arredores. Enquanto isso, as filmagens na Suécia tiveram que esperar até fevereiro para haver neve no local.
Além disso, é realmente impressionante como tudo se encaixa, e aqui estamos falando da trilha sonora que acompanha por completo a narrativa. As músicas são suaves e, principalmente, melancólicas na maioria das vezes, fazendo uma espécie de conexão com o episódio. Afinal, no fim de cada episódio, uma música com a letra passando na tela é exibida, conectando-se com a emoção de cada um dos dois personagens.
Prêmios e Crítica
A série foi um baita sucesso perante a crítica, sendo considerada aclamada universalmente. No final, foram 91% de aprovação no Rotten Tomatoes, com a garantia de um Certificado Fresh. Enquanto isso, os elogios se deram principalmente à atuação, direção, roteiro, estética e representação fiel ao conteúdo adulto.
Por fim, o consenso afirmou que “As performances vulneráveis de Jones e Paul Mescal em Normal People são ao mesmo tempo íntimas e esclarecedoras”, traduzindo de forma bela todas as nuances do material original.
Ao todo, foram quatro indicações ao Emmy Awards no ano de estreia, como Melhor Ator para Paul Mescal e Melhor Direção. Em suma, a série recebeu prêmios no British Society of Cinematographers Awards, British Academy Television Awards, BSC Awards e Casting Society of America, além dos Irish Film & Television Awards.
Vale a Pena Assistir Normal People?
Acho que se você, leitor, chegou até aqui, não precisa nem da minha constatação para saber que sim, vale e muito. Dizer que me surpreendi com a trama seria um pouco demais, pois a grandiosidade da sua fama já deixava claro o que eu poderia ver. Já sabia que nada seria um mar de rosas, e ao assistir só constatei.
Um misto de sentimentos foi explodindo conforme os minutos se passavam. Em alguns momentos, é até mesmo possível encontrar uma semelhança com algum personagem. Mas “Normal People” é tão complexo, tão único, que é realmente difícil encontrar isso cem por cento das vezes.
De maneira silenciosa e intimista, a trama cerca duas pessoas que estão vivendo a sua própria história, e ninguém pode realmente interferir nisso. Com uma premissa jovem e moderna, “Normal People” retrata uma história de amor não retratada por grandes discursos de impacto, e sim por troca de olhares e conversas silenciosas, tudo de maneira delicada, com detalhes pequenos que vão impactar.