O ícone do cinema Shelton Jackson Lee, mais conhecido por Spike Lee acaba de jogar mais uma “bomba” (no bom sentido) para explodir a cabeça dos assinantes da Netflix.
Destacamento Blood é banhado em um discurso político-racial que traz uma visão pouco abordada sobre a guerra do Vietnã, mostrando a questão dos negros americanos que foram enviados a campo para lutar por ideais que não eram seus.
Divisão racial nos Estados Unidos
Spike Lee é conhecido por suas produções que tocam em dilemas sociais vividos pela classe negra americana, de maneira que a discussão sobre tal assunto não poderia ser um tema mais atual.
Nos últimos dias temos presenciado grandes protestos por parte do Black Lives Matter. O movimento ativista surgiu após o assassinato de Trayvon Martin, um adolescente morto a tiros por George Zimmerman que foi inocentado de todas as acusações pelo estado da Flórida em julho de 2013.
Também não poderíamos deixar de citar a morte de George Floyd, um afro-americano assassinado em Minneapolis por um policial branco no dia 25 de maio de 2020. Floyd se tornou um símbolo na luta por direitos igualitários para diferentes classes.
Não é de hoje que divisões raciais causam impacto na sociedade americana e o diretor Spike Lee é especialista em mostrar seu ponto de vista sem se apoiar em conceitos moralistas
Narrativa e elenco do filme
Destacamento Blood nos conta a história de um grupo de veteranos de guerra que retornam ao Vietnã para encontrar os restos mortais de seu comandante e também uma considerável quantidade de ouro que esconderam durante uma das missões em campo.
O longa trata de aspectos que foram deixados de lado pela história como a participação dos negros na guerra do Vietnã. Essa temática é pouco retratada nos filmes americanos, uma vez que o cinema sempre se utiliza da imagem de “heróis brancos” (ex: Rambo) neste tipo de produção.
O contexto que o diretor utiliza no enredo é quase que contraditório, uma vez que o ato do grupo se reunir para reaver a memória de seu líder (dando um tom quase que patriótico para a missão) se contrapõe ao materialismo de voltar ao antigo campo de batalha para recuperar um tesouro que ficou perdido.
A narrativa do filme também insere questões relacionadas à política atual dos Estados Unidos em diálogos descontraídos, porém sempre com uma pitada de sarcasmo chegando a fazer referências ao nacionalismo individualista do governo Trump.
O roteiro de Destacamento Blood foi originalmente escrito por Danny Bilson e Paul De Meo em 2013, mas recebeu um tratamento de Spike Lee e Kevin Willmott (co-roteirista de Infiltrado na Klan). O longa está entre os mais caros do diretor, com um orçamento de produção que pode ter chegado à casa dos US $ 40 milhões.
O filme conta com as atuações de Chadwick Boseman (Pantera Negra) como Norman, Delroy Lindo (Regras da Vida) como Paul, Isiah Whitlock Jr. (The Wire- HBO) como Melvin, Clarke Peters (The Wire- HBO) como Otis e Norm Lewis (The Wild Party) como Eddie.
Uma curiosidade é que o ator Norm Lewis fez história no teatro musical sendo o primeiro ator afro-americano a atuar no papel principal da produção da Broadway The Phantom of the Opera.
O elenco ainda conta com o ator Paul Walter Hauser que também atuou em Infiltrado na Klan, o ator finlandês Jasper Pääkkönen, a francesa e lindíssima Mélanie Thierry além do ator e dublê de artes marciais vietnamita Johnny Nguyen.
A visão do diretor Spike Lee
Spike Lee tem como veia principal em sua carreira a questão racial, ficando implícito quando analisamos filmes produzidos e dirigidos por ele, como Faça a Coisa Certa- 1989, Febre da Selva- 1991 e o premiado Infiltrado na Klan- 2018.
Talvez uma das maiores peculiaridades do filme além da mudança de planos quando a trama se arrasta para o passado, seja a utilização dos mesmos atores tanto na década de 60 como nos dias atuais.
Qualquer outro diretor usaria atores mais novos ou mesmo maquiagens e efeitos visuais, mas aqui o diretor não se preocupa com isso, de maneira a demostrar que as pessoas que participaram da guerra continuam sendo as mesmas, com suas feridas e traumas ainda fazendo parte de sua identidade.
Destacamento Blood não pretende enaltecer vietnamitas ou livrar os norte-americanos de sua culpa pelas atrocidades da guerra, mas sim debater sobre contrastes entre o racismo e os privilégios da classe mais rica dentro de uma sociedade ultra-captalista.