“O Lobisomem” se passa em 1891, o ator de teatro Lawrence Talbot retorna à sua cidade natal, Blackmoor, após o desaparecimento de seu irmão Ben. Ao chegar, ele descobre que Ben foi brutalmente assassinado por uma criatura misteriosa, e a suspeita recai sobre um grupo de ciganos que mora na região.
Ao visitar um acampamento cigano, Lawrence é atacado por um lobisomem, mas rapidamente se recupera e desenvolve habilidades sobre-humanas. Em paralelo, o inspetor Frederick Abberline iniciou a investigação do caso, suspeitando que Lawrence tinha histórico de doença mental.
Agora Lawrence se ajusta aos seus novos poderes e tenta entender sua maldição. Além disso, ele descobre que seu próprio pai, Sir John Talbot, também era um lobisomem e foi responsável por assassinatos recentes, incluindo as mortes de sua mãe e de seu irmão.
Sir John passou anos aceitando sua identidade de lobisomem e agora quer que Lawrence se junte a ele. A luta entre pai e filho culminou em uma batalha terrível durante a lua cheia, quando Lawrence em forma de lobisomem decapitou Sir John, encerrando o reinado de terror de seu pai.
Para a infelicidade de Lawrence seus problemas ainda não tinham chegado ao fim. A bela Gwen Conliffe viu de Ben, se comprometeu a encontrar um remédio para a licantropia que contaminou Lawrence. Contudo, uma cigana lhe garante que o único remédio que pode libertá-lo é a morte.
No confronto final, enquanto caçadores e policiais cercam o lobisomem, Gwen implora a Lawrence para enfrentar sua bestialidade. Em um momento de esclarecimento, ele se regularizou, mas foi mortalmente atingido pela bala de prata de Gwen. Para agradecê-la pela liberdade, Lawrence morre em seus braços, encerrando assim a trágica saga dos Talbots. Por fim, e agora Abberline, mordido por Lawrence, enfrenta um futuro incerto sob a luz da lua cheia.
Diretor do Filme
O diretor Joe Johnston é uma das mentes por trás de O Lobisomem e que, de fato, trouxe uma visão única e, acima de tudo, clássica para este reboot. Antes de falarmos os elementos orquestrados por Johnston para compor o filme vale destacar que o cineasta possui uma filmografia louvável. Por exemplo, “Jumanji”, “As Crônicas de Nárnia: A Cadeira de Prata”, “Capitão América: O Primeiro Vingador” “O Céu de Outubro”. É inegável a capacidade do cineasta em criar longas metragens com potencial de se tornarem icônicos.
Algo em comum presente em todas as obras citadas é o aproveitamento dos cenários e locações para a criação de uma narrativa envolvente. Dessa forma, para a produção de um filme de época, nenhum local seria melhor do que a Inglaterra, tendo em vista sua arquitetura caracterizada por janelas em guilhotina, fachadas com colunas rústicas e ETC.
Esse resgate a épocas mais arcaicas não poderia ser mais conveniente a trama. Em ultima instancia, esse aspecto foi negligenciado na saga “Anjos da Noite”, onde trouxeram criaturas mitológicas para uma era atual e tecnológica, e o resultado ficou bem estranho.
Em que foi baseado O Lobisomem?
“Mesmo aquele de coração puro
Que a noite faz a suas preces
Pode torna-se um lobo
Quando o acônito floresce
E a lua de outono brilha” – O Lobisomem (1941).
O poema acima, escrito pelo roteirista da primeira versão do filme lançado na década de 40 (Curt Siodmak), e se mostra como um dos elementos que torna este filme como um dos maiores clássicos da cultura pop até os dias de hoje. Além disso, a versão da década de 40 foi dirigida por George Waggner, e inspirou o reboot lançado em 2010.
Apesar da primeira versão ser uma obra com padrões datados nos dias atuais, esse filme se destaca por figurinos caprichosamente produzidos e um roteiro bem organizado.
Até então, já havia lançamentos de terror da Universal com propostas tão originais quanto este longa. Por exemplo, Frankenstein (1931), Dracula (1931), e A Múmia (1932) foram lançados anos antes e haviam conquistado a graça do público naquela época. Também vale ressaltar o icônico Nosferatu (1922).
O filme de 1941 também se destaca por uma iluminação única sobre cenários bonitos e sombrios. Todos os elementos contribuem principalmente para formar contrastes fortes entre objeto central e cenário. Por fim, há muitos fãs que defendem que O Lobisomem (1941) é uma obra até melhor do que a versão mais recente, apesar de toda a evolução cinematográfica.
Diferenças entre a primeira e a segunda versão
A princípio, remakes normalmente não divergem tanto das versões originais, contudo, podemos ver diferenças gritantes da primeira versão de “O Lobisomem” com relação a segunda. Para ser mais específico, o roteiro do filme serviu de palco para diversas liberdades criativas. Algumas delas são:
Bengala de prata:
- Na primeira versão, Larry consegue a bengala com um lobo de prata em uma das extremidades quando compra na loja de Gwen, apenas como um pretexto para cortejá-la.
- Na segunda versão, Lawrence recebe essa mesma bengala de um senhor misterioso enquanto viaja de trem para sua cidade natal a fim de investigar o desaparecimento de seu irmão.
Maleva:
- No primeiro filme, Maleva é a mãe do Lobisomem que amaldiçoa Larry.
- No segundo filme, Maleva é a figura mais importante da caravana de ciganos próxima a cidade, Romani. É ela quem revela o único jeito de quebrar a maldição para Gwen.
A morte do protagonista:
- No primeiro filme, Larry ataca Gwen e seu pai Sir John Talbot desconhecendo a verdadeira identidade da fera e o espanca com uma bengala de prata até matá-la. Por fim, vendo seu próprio filho se destransformando e sem vida.
- No segundo filme, Lawrence, transformado em Lobisomem, persegue Gwen pela floresta e quando a encurrala próxima a cachoeira, ela dispara uma bala de prata em seu peito.
Essas são as principais diferenças que pude notar comparando as duas versões, e que sem dúvidas mudam totalmente a essência da trama. Obviamente a maior parte da obra de 2010 preserva com fidelidade alguns aspectos, como por exemplo a ordem dos acontecimentos, e alguns personagens. Por fim, se você está ciente de outras diferenças, te convido a deixar nos comentários!
Cena deletada do filme
No filme “O Lobisomem” de 2010, há uma cena deletada que adiciona uma camada intrigante à dinâmica do personagem Lawrence Talbot. Nesta breve sequência, durante um ataque em um evento, Lawrence, em sua forma de lobisomem, encontra uma cantora cega. Em um momento de rara humanidade, a fera hesita e parece que Lawrence, mesmo transformado, consegue retomar o controle por um instante fugaz. Esse encontro com a cantora cega destaca um vislumbre da luta interna de Lawrence, indicando que seu lado humano ainda existe, apesar da maldição.
Se essa cena tivesse sido acrescentada, eu teria alterado significativamente a visão do que estava por vir para Lawrence – sem a necessidade de matá-lo, poderia ter apresentado um tênue, porém forte, vislumbre de esperança e redenção. Esses pequenos atos de humanidade não apenas acrescentam profundidade ao retrato do personagem, mas sugerem que uma maldição poderia ser combatida (e possivelmente até superada). Dessa forma, ofereceria assim uma alternativa ao fim trágico onde tudo está perdido. Sua ausência apaga essas sombras: pinta a história com mais claramente, focando na inevitabilidade de suas denúncias e tira do público qualquer possibilidade de uma visão mais esperançosa de seu conflito pessoal com aquela maldição.
Crítica
A maior parte do público fora do Brasil aponta um erro comum no filme, a falta de um bom desenvolvimento na trama e nos personagens. Por exemplo, as cenas viscerais propriamente ditas e genuínas de um filme cuja proposta é terror, possuem um intervalo de tempo bem longo entre si, intervalo esse ocupado por dramas familiares.
De fato, se levarmos em conta somente a proposta do filme que é extrair a essência tenebrosa do clássico de 1941 podemos chegar a essa conclusão de que há redundâncias neste longa. Contudo, redundâncias tão sutis não parece motivo suficiente para justificar a chuva de críticas negativas. Por exemplo, “Um Lobisomem Americano em Londres” também teve suas incoerências entre a proposta e o que foi entregue ao espectador.
O maior feito do filme foi trabalhar o medo não só externamente por meio de figuras medonhas e nefastas, como também de maneira côncava trazendo à tona as complexidades mais internas dos personagens conflituosos de Lawrence e seu pai, Sir John Talbot.
Por exemplo, quando Lawrence enfim para de reprimir suas lembranças e se dá conta de que não foi uma morte natural, mas seu pai que, de fato, assassinou sua mãe anos atrás. Se nos aprofundarmos ainda mais, e levarmos em conta as motivações de John para matar seu filho mais novo por não aceitar sua partida, notamos que o terror não se limita apenas em cenas viscerais mas sim na passividade do antagonista.
Ademais, com um ótimo desenvolvimento construído pela soma de diálogos perspicazes e uma atmosfera tematizada em períodos vitorianos verdadeiramente caprichada, o filme mostra o potencial enorme de reboots dos monstros da Universal.
Elenco de O Lobisomem
Acima de tudo, a equipe de atores do filme “O Lobisomem” é composta por Benicio del Toro, Anthony Hopkins, Emily Blunt, e Hugo Weaving. Essas quatro figuras se destacaram com a papéis envolventes, e as personalidades projetadas em cada personagem através de suas atuações, de fato, contribuíram muito para tornar o filme memorável. Dessa forma, esses artistas apresentaram qualidades únicas como:
Anthony Hopkins: O veterano que estrelou icones do cinema americano, como por exemplo “O Silêncio dos Inocentes”, “Dragão Vermelho”, e “Hannibal” desempenhou uma performance enigmática. A indiferença que Anthony Hopkins consegue expressar como Sir John Talbot é uma das coisas que mais chamou minha atenção no filme. Podemos ver bem isso na cena em que John Talbot visita Lawrence no manicômio.
Emily Blunt: Gwen Conliffe é a personagem feminina, ela carrega consigo a camada de romance que permeia a trama. Seus traços afilados e delicados, sua voz suave, e sua personalidade recatada e ao mesmo tempo firme despertam a cobiça tanto de Lawrence quanto de Sir John Talbot. Essas características são repassadas magistralmente pela atriz Emily Blunt.
Hugo Weaving: Hugo Weaving interpreta ninguém mais ninguém menos que o próprio detetive Frederick Abberline, policial à frente do caso Jack Estripador. Ele é um dos maiores obstáculos na jornada do protagonista. Hugo conseguiu performar bem a imponência e a determinação do personagem. O ator trabalha muito bem o jeito carrancudo e ácido do personagem, tornando-o uma das figuras mais memoráveis da obra.
O filme se mostra tão bem organizado que até o número de figurantes contribui para tornar a narrativa mais convincente. Por exemplo, quando Lawrence se transforma e começa a percorrer desgovernadamente a cidade de Londres, vemos um elenco preenchendo os cenários. Por fim, toda a equipe de atores se mostram como um dos pontos mais fortes do filme.
Benicio del Toro
O ator Benicio del Toro dá vida a Lawrence Talbot, um homem que parece sufocar seus transtornos com os prazeres mundanos da vida urbana. Como um personagem cheio de conflitos internos, descobrimos ao decorrer da narrativa que Lawrence adquiriu esses conflitos internos na sua infância.
Dessa forma, o ator Benicio del Toro não só performou bem na parte gestual enquanto Lobisomem, como também mostrou desenvoltura nas várias camadas de seu personagem, tornando assim, uma atuação mais do que convincente.
Por que O Lobisomem fracassou nas bilheterias?
Uma das maiores dúvidas que me veio à mente com relação ao Lobisomem é, por que uma produção tão bem construído se tornou um dos maiores fracassos da Universal? Para descobrir isso,tive que pesquisar vários artigos e fóruns publicados desde o lançamento até os dias atuais. Em suma, não encontrei nenhuma opinião negativa nos comentários dos fóruns. Porém, há uma característica negativa em comum na maioria dos artigos com relação a esse remake, o roteiro previsível.
Nesse sentido, não é exagero concluir que até o lançamento deste filme o ceticismo e a falta de sensibilidade do público com relação aos mitos e folclores. Dessa forma podemos concluir que esses são um dos motivos pro longa não ter despertado tanta atenção. Nesse cenário, não é difícil achar outros filmes excessivamente subestimados. Por exemplo, “Olhos Famintos” (2001), “Van Helsing” (2004), O Grito (2004), “A Casa de Cera” entre outros.
Em última análise, O Lobisomem custou em torno de US$150 milhões e arrecadou nas bilheterias pouco mais de US$ 139 milhões. Assim, se tornando um dos maiores fracassos financeiros da Universal Pictures. Por fim, o que você achou desse remake? Deixe nos comentários!
Trilha sonora do filme
O tempo para entregar o filme foi curto e desafiador para o cineasta Joe Johnston. E como se isso não bastasse, os executivos interferiram muito na visão do diretor projetada no filme. Por exemplo, o próprio compositor da trilha sonora deste filme (Danny Elfman) foi demitido e readmitido.
No cenário em que Elfman estaria fora, ao em vez das melodias clássicas e orquestrais ouviríamos composições mais ácidas e pouco coerente com filmes de época feitas pelo músico Paul Haslinger dado fato de que ele tem um histórico de álbuns que tende ao Rock and Roll.
O álbum composto por Elfman se mostra tomado por sons de violino e violoncelo. Dessa maneira, as melodias realçam ainda mais a elegância do cenário Vitoriano do filme. Além disso, faixas como “The Funeral”, “Dear Mr. Talbot”, e “Wolf Suite Pt 2” expressam o trágico fardo que a maldição impõe não só para o lican mas também as pessoas ao seu redor.
Em última análise, uma das características que atrapalha um pouco a trilha sonora deste filme é a repetitividade. Em outras palavras, parece que o músico aderiu a Leitmotifs para compor suas faixas, e isso torna a experiência de assistir o filme levemente cansativa, nada que estrague o filme. Por fim, essas músicas tornam o filme ainda mais marcante.
Onde Assistir O Lobisomem?
Você pode assistir “O Lobisomem” (2010) em diversas plataformas de streaming. Por exemplo, o filme está disponível na Amazon Prime Video, Apple TV, Youtube. Se você realmente é fã de obras com cenário de época e atmosfera gótica, então vale muito a pena separar um tempo para assistir essa obra.
Conclusão
Se eu pudesse definir a moral do filme em uma frase, seria essa: “Dizem que matar um animal não é pecado, mas matar um homem sim. Mas onde começa um e termina o outro?” – O Lobisomem (2010).
Lawrence Talbot é um homem bom e quando se transforma em fera, age por instinto e não por malícia ou sagacidade. Por outro lado, seu pai Sir John Talbot, intoxicado pelo poder que corria em suas veias, ultrapassou as fronteiras da moralidade e escolheu parar de se confrontar. Dessa maneira, ele abriu mão do controle de sua própria natureza ao ferir indiscriminadamente as pessoas à sua volta.
Se você chegou até aqui, te convido a relembrar das vezes que perdeu o controle das próprias emoções, e também pensar na forma como machucou as pessoas a sua volta por conta disso. Essa reflexão torna “O Lobisomem” uma das melhores obras de terror já criadas. Até a Próxima!