Análise | Fuufu Ijou, Koibito Miman 

Fuufu Ijou, Koibito Miman
Fuufu Ijou, Koibito Miman - Imagem: Crunchyroll/SEA: Medialink

Você já conheceu alguém que achava ser seu grande amor, mas depois descobriu o que é amar de verdade? Isso pode acontecer no ensino médio, na faculdade ou até mais tarde na vida. E quando acontece, é mágico, desde que não seja tarde demais. Ao longo da vida, cruzamos com muitas pessoas, mas raramente temos a sorte de identificar quem realmente amamos. Ainda mais raro é ter a chance de viver algo com essa pessoa. No fim das contas, viver é descobrir o que realmente queremos e quem queremos ao nosso lado e podemos ver isso em Fuufu Ijou, Koibito Miman.

More Than a Married Couple, But Not Lovers (título original: Fuufu Ijou, Koibito Miman), também conhecido como Fuukoi, é um anime baseado no mangá de Yuuki Kanamaru. A adaptação é uma produção da Kodansha Shorten, com direção de Junichi Yamamoto e supervisão geral de Takao Kato. Enquanto isso, o roteiro ficou por conta de Naruhisa Arakawa, o design dos personagens por Chizuru Kobayashi e a trilha sonora composta por Yuri Habuka. A série foi ao ar entre 9 de outubro e 25 de dezembro de 2022 no canal AT-X no Japão. Já no mercado internacional, a Crunchyroll licenciou o anime e transmitiu a produção.

Com 12 episódios de 24 minutos cada, Fuufu Ijou, Koibito Miman mistura comédia e romance em um ambiente colegial, voltado especialmente para o público seinen. A classificação é PG-13, recomendada para maiores de 13 anos. O mangá original é desenhado por Kapiko Toriumi e vem sendo publicado na revista Young Ace, da Kadokawa Shoten, desde março de 2018. Agora, a obra já conta com treze volumes públicados no Japão.

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A história destaca Jirō Yakuin, um estudante introvertido que gosta de ficar em casa jogando videogames em vez de socializar. Ele é apaixonado por sua amiga de infância, Shiori Sakurazaka, mas nunca teve coragem de confessar seus sentimentos. No entanto, a escola implementa um novo projeto de “treinamento matrimonial”, em que os alunos devem viver como se fossem casais para desenvolver habilidades sociais e aprender sobre relacionamentos. Por fim, a avaliação da performance dos casais acontece por meio de observações constantes. 

Jirō gostaria de ser parceiro de Shiori nesse projeto, mas acaba sendo designado para conviver com Akari Watanabe, uma garota popular e extrovertida do tipo gyaru, que o considera esquisito e preferia estar ao lado de Minami Tenjin, o queridinho da escola. Mesmo com personalidades tão diferentes, os dois concordam em cooperar quando descobrem que, com uma pontuação alta, poderão trocar de parceiros. 

De acordo com a sinopse oficial:Jirō e Akari, mesmo sendo opostos completos, se tornam parceiros no projeto de classe voltado para simular a vida de casados. O objetivo é aprender sobre convivência e rotina a dois, mas o problema é que ambos têm sentimentos por outras pessoas. Para conseguirem trocar de parceiros, eles precisam alcançar notas perfeitas, agindo como um casal de verdade. Porém, viver sob o mesmo teto não é tão simples quanto parece, e aos poucos eles percebem que será preciso muito mais do que boas atuações para conseguirem o que desejam.”

A trama de Fuufu Ijou, Koibito Miman 

Akari Watanabe e Jirō Yakuin de Fuufu Ijou, Koibito Miman
Akari Watanabe e Jirō Yakuin de Fuufu Ijou, Koibito Miman – Imagem: Crunchyroll/SEA: MedialinkImagem:

Fuufu Ijou, Koibito Miman gira em torno da vida de estudantes do ensino médio que, como parte de uma atividade escolar, são agrupados em pares e forçados a conviver sob o mesmo teto como se fossem casais. O protagonista masculino, Jirō Yakuin, é apaixonado por sua melhor amiga de infância, Shiori Sakurazaka. Enquanto isso, a popular e descolada Akari Watanabe nutre sentimentos por Minami Tenjin, o garoto mais cobiçado da escola. Contudo, para surpresa geral, Jirō e Akari acabam sendo pareados, ao passo que Minami é colocado ao lado de Shiori

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Akari lembra a Jirō que os casais que alcançassem nota A na prática de convivência teriam a chance de trocar de parceiros, o que anima os dois com a possibilidade de se livrarem um do outro. Afinal, JirōAkari como arrogante e superficial, enquanto ela o considera um cara solitário e socialmente inferior. Com isso, ambos estão determinados a trocar de parceiro o mais rápido possível. Para conseguir uma boa pontuação, eles decidem fingir estar apaixonados, o que acaba gerando cenas cativantes, cheias de química e um toque de maturidade que agrada bastante ao público. 

Mas logo, Fuufu Ijou, Koibito Miman acompanha a evolução de Jirō ao perceber os próprios sentimentos e impulsos adolescentes, que vão ficando mais evidentes à medida que convive com Akari. Com o tempo, os dois começam a demonstrar afeto genuíno um pelo outro, mesmo tentando negar. A proposta da série se destaca por ser diferente, já que poucos animes abordam uma prova prática sobre relacionamentos de maneira tão direta e envolvente. 

Com apenas 12 episódios, a série é curta, divertida e equilibrada entre comédia e romance. A narrativa segue o desenvolvimento de Jirō, que aos poucos vai deixando de lado a fixação por Shiori e começa a perceber a conexão inesperada com Akari. O enredo se mantém leve, mas não deixa de apresentar conflitos emocionais típicos da adolescência, o que torna tudo mais verossímil e envolvente. 

A ideia de forçar os alunos a morarem juntos para praticar a vida de casal cria relações artificiais no início, mas também abre espaço para conexões inesperadas. Jirō e Akari, por exemplo, dificilmente teriam interagido fora dessa circunstância. Cada um estava interessado em outra pessoa, mas acabam se aproximando pela necessidade de ganhar pontos e alcançar a chance de formar o par que realmente desejam. A dinâmica entre eles acontece da maneira mais natural e cativante possível. 

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No decorrer da prática, ocorrem alguns desentendimentos entre Akari e Shiori, o que acaba criando um triângulo amoroso inesperado. Afinal, Akari começa a desenvolver sentimentos verdadeiros por Jirō, enquanto Shiori continua demonstrando interesse nele de forma mais sutil e confusa. Esse conflito emocional entre os personagens dá mais profundidade à trama e mantém o espectador curioso sobre os desdobramentos. 

Todos os personagens principais são carismáticos e bem desenvolvidos, com exceção das amigas de Akari, que seguem o estereótipo das garotas fofoqueiras e maldosas. Enquanto isso, Jirō é um jovem gentil e confiável, sempre pronto para ajudar Akari quando ela mais precisa, mesmo com seu jeito mandão. Por outro lado, Akari vive provocando Jirō com brincadeiras ambíguas, o que o deixa confuso. Já Shiori não consegue expressar claramente seus sentimentos, o que complica ainda mais a vida amorosa de Jirō

Por fim, a jornada de Jirō é boa, cheia de momentos engraçados e, ao mesmo tempo, cheia de emoções sinceras. Ele demora a perceber que está se apaixonando por Akari, o que torna sua trajetória ainda mais cativante. A forma como os adolescentes lidam com o amor e a convivência é acontece de forma leve, mas com certa maturidade, o que dá um tom autêntico à história. Essa representação autêntica da juventude é um dos destaques da série. 

Perto do desfecho, a tensão aumenta quando tanto Akari quanto Shiori competem pela atenção de Jirō. Akari, agora completamente envolvida emocionalmente, quer ficar com ele de verdade, deixando para trás sua antiga paixão por Tenjin (que, aliás, parece não ter interesse algum nela). Tudo indica que ele prefere mulheres mais velhas, o que é apenas sugerido na história. Infelizmente, o anime termina sem revelar quem Jirō escolhe, o que deixa o público frustrado com a falta de uma conclusão. 

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A trama não apresenta grandes reviravoltas, sendo centrada no jogo de sentimentos entre os protagonistas. Jirō e Akari vivem um constante vai e vem, alternando entre o desejo de confessar seus sentimentos e o medo da rejeição. Esse desenrolar, ainda que simples, mantém o espectador envolvido, torcendo por uma resolução que, infelizmente, acaba não vindo. Ainda assim, a série consegue entregar uma narrativa divertida, sensível e cheia de momentos marcantes. 

Personagens de Fuufu Ijou, Koibito Miman 

Personagens de Fuufu Ijou, Koibito Miman
Personagens de Fuufu Ijou, Koibito Miman – Imagem: Crunchyroll/SEA: Medialink

Akari Watanabe inicialmente apresenta um temperamento mais ríspido, lembrando bastante o estereótipo das gyaru, garotas de aparência chamativa e comportamento ousado. No entanto, à medida que a história se desenvolve, ela revela um lado mais gentil e sensível, conquistando não só os personagens ao seu redor, mas também o público. Essa transformação é natural e bem construída, deixando claro que sua personalidade vai muito além das primeiras impressões. 

Apesar de chamar atenção com seu visual marcante e ser constantemente cortejada por outros personagens, Akari prova que é mais do que apenas aparência. Ela se mostra uma das personagens femininas mais cativantes dos animes de 2022, ganhando destaque pela sua sinceridade e maturidade emocional. Em nenhum momento ela perde o controle ou adota uma postura competitiva negativa em relação a Shiori ou outras garotas. Ao contrário, sempre atua de maneira colaborativa, sendo uma verdadeira companheira em todos os sentidos. 

Sua ingenuidade é confirmada por Tenjin, que revela já ter percebido os sentimentos dela apenas por conta dos olhares frequentes que ela lançava. Mesmo assim, Akari continua sendo uma figura extremamente carismática e com uma energia positiva que contagia a todos. Sem sua presença, é plausível que Fuufu Ijou, Koibito Miman não tivesse tido tanta notoriedade entre os apreciadores de anime. Sua presença é essencial para o sucesso e carisma da narrativa. 

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Desde o início, Akari sabia que o coração de Jirō estava voltado para Shiori. Ainda assim, quando percebeu que estava apaixonada por ele, decidiu agir com calma e paciência. Em vez de se deixar levar pela competição ou insistir em seus sentimentos, optou por trilhar seu próprio caminho. Durante o verão, se afastou um pouco de Jiro e não tentou forçar a relação. Em encontros casuais, mostrou a ele um lado mais suave de sua personalidade, permitindo que o vínculo entre eles crescesse naturalmente. 

Mesmo apaixonada pelo mesmo garoto que sua “rival”, Akari manteve o respeito e a consideração por Shiori. Isso reforça sua posição como uma das melhores protagonistas femininas do gênero comédia romântica lançadas recentemente. Ela não desiste com facilidade, e sua determinação é visível quando corre lado a lado com Shiori até o santuário, consciente de que ainda teria muito a enfrentar, mas convicta de que valeria a pena se ao final pudesse estar ao lado de Jiro

Além disso, Akari representa perfeitamente o que muitos consideram uma “garota dos sonhos”. Ela reúne beleza, simpatia e uma personalidade encantadora, sem os excessos típicos de personagens tsundere. Sua aparência gyaru se mistura com uma doçura genuína, o que torna sua personalidade ainda mais interessante e divertida de acompanhar. É fácil entender por que tantas pessoas se encantam por ela ao longo do anime. 

Por outro lado, temos Jirō Yakuin, o protagonista masculino da história. No exercício de convivência em casal, ele acaba sendo designado como par de Akari, embora seu desejo fosse fazer dupla com sua amiga de infância, Shiori Sakurazaka. Apesar de hesitante, Jiro concorda com o desafio e busca lidar com essa situação inesperada, enquanto alimenta sentimentos verdadeiros por Shiori, emoções que o levam a manter uma certa distância emocional de Akari no início. 

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Gostei da forma como Jirō, mesmo tendo uma garota tão atraente e divertida como Akari ao seu lado, se manteve fiel aos seus sentimentos iniciais. Essa característica o diferencia de muitos protagonistas de animes do gênero. É surpreendente ver alguém resistindo à tentação de se envolver logo com alguém como Akari. Afinal, é quase impensável não cair de amores por ela de imediato, mas Jirō prova ser mais profundo do que aparenta. 

Ele recusa as primeiras tentativas de aproximação de Akari, mesmo quando essas atitudes se tornam mais intensas. Sua rejeição não é rude, mas sim desconfortável, como se ele estivesse tentando lidar com um dilema interno. Só quando ele começa a desenvolver sentimentos verdadeiros por Akari é que passa a corresponder de forma mais sincera, ainda que cautelosa. Ele não vê nela apenas uma oportunidade para “aproveitar a juventude”, mas alguém com quem pode construir algo verdadeiro. 

No que diz respeito ao desenvolvimento dos personagens, o anime consegue acertar ao focar sobretudo no trio principal, sendo eles, Akari, Shiori e Jiro. Ainda assim, alguns personagens coadjuvantes, como Mei, amiga de Shiori, poderiam ter sido melhor explorados. Embora ela tenha confessado seus sentimentos por Shiori, a conexão entre as duas não é suficientemente desenvolvida para criar expectativas reais de um romance nas próximas temporadas. 

Apesar de boa parte do elenco secundário ser deixada de lado ou apresentado de forma superficial, os personagens têm carisma e cumprem bem o papel de complementar a trama. Suas vozes combinam com suas personalidades, contribuindo para o tom leve e divertido da série. Embora a estrutura aparente ser típica de uma comédia romântica, o enredo consegue se distinguir com um toque original. É uma história envolvente, agradável e, acima de tudo, cativante do início ao fim. 

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O relacionamento entre Akari Watanabe e Jirō Yakuin 

Akari Watanabe e Jirō Yakuin 
Akari Watanabe e Jirō Yakuin – Imagem: Crunchyroll/SEA: Medialink

O desenvolvimento dos personagens em Fuufu Ijou, Koibito Miman  é realista e bem construído, refletindo com precisão o comportamento típico dos adolescentes em relação a seus crushes e interesses amorosos. O protagonista se destaca por ser carismático e divertido, fugindo do estereótipo do mestre de cerimônias entediante comum em muitos animes.

No entanto, seria interessante uma leve evolução na personalidade do Jirō, com um toque mais confiante e assertivo, semelhante, talvez, a um personagem um pouco mais de atitude. Sua tendência a se irritar com facilidade acaba soando imatura e, em alguns momentos, quebra o clima das cenas. 

À medida que a história prossegue, a ligação entre Jirō e Akari se consolida, embora ambos estejam unicamente “simulando” se dar bem. Essa relação ambígua cria um clima constante de dúvida, enquanto os dois tentam entender se o que sentem é verdadeiro ou apenas parte do acordo inicial.

A situação se complica ainda mais com a presença de Shiori, que também demonstra ter sentimentos por Jirō. Quando Minami recusa a declaração de Akari com gentileza e a faz perceber que seu amor por Jirō é real, a trama atinge um ponto de tensão. Com Akari e Shiori apaixonadas por ele, Jirō se vê dividido, sem saber qual das duas deveria escolher. 

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Cores, ambientação e música 

As cores de Fuufu Ijou, Koibito Miman
As cores de Fuufu Ijou, Koibito Miman – Imagem: Crunchyroll/SEA: Medialink

A história não tem a intenção de ser um retrato realista, por isso o visual também não segue essa linha. As cores são vibrantes, intensas e contribuem para uma estética divertida e estilizada. Essa escolha visual dá personalidade à série e reforça sua identidade. É um estilo que chama a atenção logo de cara e se encaixa perfeitamente no tom leve e dinâmico da narrativa. 

A paleta de cores é fortemente saturada, com tons ousados e vivos que enriquecem a atmosfera da série. Em geral, as combinações são bem planejadas e agradáveis aos olhos. A apresentação visual consegue equilibrar momentos de fulgor intenso com instantes mais brandos, criando um contraste interessante. Essa mistura mantém a estética coesa e visualmente envolvente, sem perder o ritmo. 

A música de abertura, “True Fool Love”, interpretada por Liyuu, e o encerramento, “Stuck on You”, cantado por Nowlu, se encaixam bem. Aliás, o encerramento se sobressai ainda mais, com uma melodia cativante e marcante. A escolha musical foi certeira, trazendo uma energia leve e agradável que acompanha bem o clima do anime. É uma trilha envolvente, com batidas e ritmos que ampliam a experiência da obra. 

O que há de melhor em Fuufu Ijou, Koibito Miman

Cena com Akari Watanabe e Jirō Yakuin 
Cena com Akari Watanabe e Jirō Yakuin – Imagem: Crunchyroll/SEA: Medialink

Entre as características mais comuns em romances do cotidiano, como personagens fáceis de se identificar, histórias de amor envolventes e um bom toque de drama, os aspectos visuais raramente ganham destaque. Isso não significa que essas séries sejam feias ou mal produzidas. A questão é que animações de altíssima qualidade não costumam ser o foco desse tipo de obra. Desse modo, Fuufu Ijou, Koibito Miman segue esse padrão e, embora visualmente agradável em muitos momentos, não surpreende tanto nesse aspecto. 

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Ainda assim, vale destacar que a animação é apenas um dos muitos elementos que compõem uma série. Ela pode até contribuir para o entretenimento, especialmente quando a história é mediana e os personagens são um pouco genéricos. Mas, se a base, enredo e desenvolvimento dos personagens, não for sólida, nem mesmo os visuais mais bonitos conseguem sustentar o conjunto. Nesse caso, a beleza se torna apenas uma camada superficial sobre um conteúdo com problemas estruturais. 

Apesar disso, Fuufu Ijou, Koibito Miman entregou algumas cenas memoráveis. Um bom exemplo é o instante em que Akari, em prantos, pede socorro a Jirō. A interação entre os dois foi genuinamente tocante. Durante toda a série, fica claro que os dois estão se aproximando e desenvolvendo sentimentos verdadeiros. Essa cena, em especial, é a confirmação emocional de tudo que a narrativa vinha construindo. É justo reconhecer esse mérito e destacar a sensibilidade com que a situação foi retratada. 

Animes de romance com triângulos amorosos são bastante comuns, e muitos tentam passar a ideia de uma disputa intensa entre dois personagens por um mesmo amor. No entanto, na maioria das vezes, fica evidente quem será escolhido no final. Existe sempre aquela “opção certa”, que o público já identifica desde cedo e que recebe mais atenção da história. 

E quando essa “opção certa” não corresponde ao personagem principal, dificilmente o desfecho vai agradar. O envolvimento emocional do espectador tende a ser prejudicado quando a história se distancia de sua própria coerência interna. 

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Em Fuufu Ijou, Koibito Miman, felizmente, isso não sucede. Tanto Akari quanto Shiori têm chances reais de conquistar Jirō. Embora a série explore bastante o apelo físico das personagens femininas, ela também se esforça para mostrar que elas são mais do que rostos bonitos e corpos atraentes. Há tentativas consistentes de aprofundar suas personalidades e motivações. 

O próprio Jirō, por sua vez, não é um protagonista descartável. Ele tem seus momentos de destaque e demonstra razões legítimas pelas quais alguém poderia se apaixonar por ele, mesmo que esse sentimento demore a surgir. Sua insegurança e crescimento pessoal tornam o personagem mais humano e, em certos pontos, até cativante. 

O enredo passa longe da perfeição 

Personagens de Akari e Jirō
Personagens de Akari e Jirō – Imagem: Crunchyroll/SEA: Medialink

No fim das contas, mesmo com algumas qualidades, Fuufu Ijou, Koibito Miman não conseguiu se destacar de forma significativa. Isso, por si só, não seria um problema, afinal, há muitos animes medianos que ainda assim são divertidos de assistir. O problema é que a série criou uma situação difícil logo de cara. A primeira impressão foi desfavorável e, lamentavelmente, isso influenciou a experiência do público, deixando a sensação de que existia potencial para além do que foi ao ar.

Se esperarmos que uma boa série dependa exclusivamente de uma execução impecável, talvez jamais encontremos uma que atenda a esse padrão. Erros, tropeços e até decisões duvidosas são comuns, mas uma obra pode superar tudo isso se tiver elementos que realmente prendem o espectador, como uma trama envolvente, personagens bem desenvolvidos e temas que despertam interesse. É isso que faz com que o público continue assistindo, mesmo diante de falhas pontuais. 

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No caso de Fuufu Ijou, Koibito Miman, a série jogou tão seguro e seguiu tão rigidamente suas próprias regras que raramente conseguiu se destacar. Apesar de algumas boas interações entre os personagens, a narrativa sofreu com um início apressado e um tanto desconfortável. Isso impediu que a história encontrasse um ritmo sólido ou construísse um envolvimento mais natural ao longo dos episódios. 

Jirō, por exemplo, tinha um conjunto de qualidades que o tornava carismático. Era gentil, prestativo e demonstrava iniciativa nos momentos certos. Ou seja, ele não ocupava o papel de protagonista romântico apenas por ser o personagem principal, mas porque havia características que justificavam isso. Por esse motivo, não é difícil aceitar que Shiori pudesse ter sentimentos por ele, e o contrário também. Afinal, eles se conheciam bem e havia uma base para essa conexão. 

Da mesma forma, quando Akari se apaixona por Jirō, e ele por ela, isso também faz sentido dentro do contexto. A relação entre eles foi construída aos poucos e havia uma certa consistência nessa aproximação. Contudo, essa construção já existia previamente na história, e é por isso que o sentimento entre os dois se desenvolve de forma crível. 

O problema é que Akari parece ter seu coração acelerado logo na primeira situação mais íntima com Jirō. Isso acontece logo após um episódio inteiro dedicado a mostrar que ambos rejeitavam firmemente a ideia de estarem juntos naquele “casamento”. Ou seja, a transição entre esses dois momentos foi abrupta e pouco convincente. 

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Pelo próprio estilo da série e de outras semelhantes, Akari eJirō estavam inevitavelmente destinados a ficarem juntos. O que poderia ser uma trajetória gradual e cheia de nuances acabou sendo apressado. A série optou por encurtar o caminho, eliminando o charme da descoberta e do crescimento mútuo. 

O final também não colaborou. Assim como o início foi repentino e sem muito desenvolvimento, o desfecho chegou de forma súbita. A sensação que fica é que os criadores temiam não ter uma segunda chance para contar essa história e, por isso, tentaram plantar um gancho para uma possível continuação de última hora.

Conclusão de Fuufu Ijou, Koibito Miman 

Akari Watanabe
Akari Watanabe – Imagem: Crunchyroll/SEA: Medialink

Fui surpreendida pelo anime Fuufu Ijou, Koibito Miman e seu conceito inusitado de “casamento prático”. A ideia de juntar adolescentes aleatoriamente em duplas heterossexuais, fazer eles morarem juntos e simular uma vida de casados enquanto ainda estão na escola me pareceu, no mínimo, estranha. É ainda mais bizarro pensar que algo assim faria parte do currículo escolar. Apesar dessa premissa pouco convencional, a experiência de assistir ao anime acabou sendo razoavelmente agradável e, em certos momentos, divertida. 

Desconsiderando esses pontos mais complicados, é correto dizer que Fuufu Ijou, Koibito Miman não foi o romance mais notável que já testemunhei em animes. Desde o início apressado até a proposta fora do comum, dá para entender por que essa série não recebeu tanta atenção, mesmo com sua estética visual belíssima. A direção de arte chama bastante atenção, mas não foi o suficiente para colocar a obra entre os grandes sucessos do gênero. 

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Ainda assim, mesmo com todos esses tropeços, o anime tem um ritmo leve e se mostra divertido de assistir. É uma recomendação fácil para quem está procurando uma história que misture romance, comédia e um pouco de drama adolescente. Não exige muito do espectador, o que pode ser um ponto positivo dependendo do momento. Apesar de não estar entusiasmada com uma possível sequência, admito que adoraria saber com quem Jirō termina no desfecho. 

A comédia da série é aceitável, apesar de, em alguns momentos, cair no exagero e na repetição. Grande parte do humor se baseia em situações embaraçosas e na timidez dos personagens, o que pode funcionar no início, mas tende a cansar com o tempo. O que mais me prendeu foi, sem dúvidas, a direção de arte. As cores vivas e a fluidez da animação são aspectos que se destacam bastante ao longo da série. 

Sobre o fanservice, ele existe, mas é um tanto comedido e concentrado quase exclusivamente na personagem Akari. Em obras com triângulos amorosos ou haréns, é comum o público escolher “um lado”, mas aqui essa escolha pode não agradar a todos. Se você não gosta de personagens barulhentas no estilo gyaru ou das clássicas amigas de infância doces e passivas, talvez ache o fanservice um tanto limitado. 

Quanto aos personagens, eles são interessantes, não exatamente memoráveis no sentido de profundidade ou emoção, mas suficientemente marcantes para se destacarem durante a narrativa. É curioso como a série consegue fazer isso, afinal, nenhum personagem é extremamente complexo, mas todos deixam sua marca de alguma forma. É um equilíbrio incomum, mas funciona dentro da proposta da história. 

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Um ponto positivo na trama é o modo como ela aborda os temas de amizade e romance de infância, tão comuns nos animes. Aqui, isso se manifesta na maneira como adolescentes começam a lidar com sua sexualidade e sentimentos, especialmente quando são colocados em situações que os forçam a encarar esse amadurecimento. As interações entre Jirō e Shiori refletem bem esse desconforto típico, dando ao público aquela tensão clássica entre amigos de longa data. 

Esse tipo de dinâmica já é bem conhecido, mas a série conseguiu utilizá-la de uma forma interessante. Ao mostrar o comportamento hesitante e inseguro de Jirō com Shiori, ela acabou destacando, por contraste, a beleza do relacionamento em desenvolvimento entre ele e Akari. O roteiro foi inteligente ao usar uma fórmula comum para construir algo mais envolvente com a outra personagem. 

Chegando ao fim da primeira temporada, após muitos momentos de indecisão e torcida, fica claro que Akari é a melhor escolha para Jirō. Os roteiristas conseguiram conduzir essa percepção de forma sutil, utilizando a relação entre Jirō e Shiori para reforçar a força do laço que ele criou com Akari. Foi um trabalho delicado e eficaz, que deixou claro quem realmente combinava com ele. 

Apesar da trama parecer excêntrica, especialmente por ser classificada como seinen, o conteúdo não parece direcionado a um público adulto másculino em sua essência. Ela tem um tom simples e amável, o que acaba sendo um diferencial. É raro encontrar uma comédia romântica seinen com essa leveza, já que o gênero costuma seguir caminhos mais dramáticos ou introspectivos. 

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Uma das coisas que mais gostei foi o modo como a série trabalhou com contrastes. Desde o título, já se percebe uma dualidade entre o que é e o que poderia ser. A obra brinca com posições opostas, amizade e amor, realidade e fantasia, maturidade e imaturidade, de maneira sutil e eficaz. Ao contrário de muitos animes que forçam esse tipo de oposição, aqui tudo parece mais orgânico. 

Esse uso cuidadoso de contrastes dá ao anime um charme a mais. Ele deixa de ser só mais uma comédia romântica estudantil e conquista uma identidade própria. São poucos os casos em que a dualidade dos personagens e situações realmente contribui para a narrativa de forma significativa, e Fuufu Ijou, Koibito Miman faz isso com competência. 

Apesar de um começo apenas razoável, o anime conseguiu me cativar aos poucos. Chegou um ponto em que eu realmente aguardava os próximos episódios. Não foi uma obra marcante ou inesquecível, mas cumpriu muito bem o papel de entreter. A série conseguiu harmonizar o insensato e o encantador, sem exagerar em nenhum desses aspectos, assim como Jirō e Akari, sendo realmente mais do que amigos, mas ainda não exatamente um par romântico. 

Se você procura uma comédia romântica leve, com uma pegada adulta, mas sem grandes pretensões, Fuufu Ijou, Koibito Miman pode ser uma boa escolha. A história oferece momentos divertidos, alguma tensão romântica e uma representação razoavelmente realista das emoções adolescentes, tudo isso envolvido em uma apresentação visual de destaque. É um anime fácil de assistir e que pode surpreender, mesmo com suas limitações. Vale lembrar que a produção está disponível em streaming no Crunchyroll.

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