No próximo domingo, dia 2 de março, acontece diretamente do Dolby Theatre, em Los Angeles, na Califórnia, a cerimônia de entrega da 96ª edição do famoso “Prêmio da Academia”, mais conhecido como Oscar. Pela primeira vez na história, a cerimônia será comandada pelo comediante e apresentador Conan O’Brien e, nos Estados Unidos, será transmitida pelo canal ABC, como ocorre tradicionalmente desde 1976, e também, pela primeira vez na história, pela plataforma de streaming Hulu.
No Brasil, a cerimônia do Oscar deve ser transmitida pelo canal pago TNT e pela plataforma de streaming Max, que há anos transmitem a cerimônia, além também da Rede Globo, que volta a transmitir a cerimônia depois de anos de ausência. Devido ao fato de o filme brasileiro Ainda Estou Aqui estar indicado em três categorias, incluindo Melhor Filme, a Rede Globo decidiu transmitir a cerimônia e deixar a transmissão dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro em segundo plano. Isso devido ao feito inédito obtido pelo filme brasileiro.
Nesse ano, cobrimos as principais premiações da temporada e, como não poderia deixar de ser, também cobriremos o Oscar, já que essa é a principal e mais importante premiação da temporada. Aliás, todas as premiações são quase que apenas uma prévia do Oscar. Dessa forma, analisaremos cada uma das principais categorias do Oscar desse ano e ponderaremos as chances de vitória de cada concorrente em cada uma delas. Seguiremos nossa análise por essa que é uma das mais importantes categorias do Oscar. Lembrando que já analisamos diversas outras categorias do Oscar desse ano. Mas primeiro, você sabe o que se premia nessa categoria? Te explicamos abaixo.
O que é o Oscar de Melhor Canção e Trilha Sonora Original
Essas duas categorias estão intimamente ligadas, até porque canções são parte de uma trilha sonora. Por isso também, essas categorias foram criadas juntas e começaram a ser entregues na 7ª edição do Oscar, ocorrida em 1935. No início nenhuma das duas categorias exigia que canções e trilhas sonoras fossem originais, ou seja, fossem criadas especificamente para serem usadas em um determinado filme. Dessa forma, qualquer canção ou qualquer trilha sonora que aparecem em um filme lançado durante o período de elegibilidade do Oscar eram elegíveis a concorrer nessas categorias.
No caso de Melhor Canção Original essa regra mudou depois do Oscar de 1942 quando “The Last Time I Saw Paris” do musical Se Você Fosse Sincera (1941) venceu essa categoria. No entanto, a canção não tinha sido composta para o filme e, na verdade, tinha sido lançada em 1940. A vitória de “The Last Time I Saw Paris” gerou protesto até mesmo de seu compositor, Jerome Kern, que acreditava que era “Blues in the Night” (que depois se tornaria um clássico) quem merecia a vitória no Oscar.
O próprio Kern foi quem pressionou a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, instituição que entrega o Oscar, para que ela mudasse as regras exigindo que apenas canções originais e compostas especificamente para um filme fossem elegíveis para concorrer nessa categoria. Já no caso de Trilha Sonora Original, a mudança ocorreu em 1938 com a controvérsia em torno da vitória do musical 100 Homens e uma Menina.
Isso porque, o filme não tinha nenhuma composição original em sua trilha sonora e somente reciclava temas antigos. Com tudo, aqui no entanto, ao invés de exigir originalidade e ineditismo como ocorrido em Melhor Canção Original, a Academia resolveu criar outra categoria. Dessa forma, entre 1939 e 1941 duas categorias conviveram no Oscar, uma para Melhor Trilha Sonora e outra para Melhor Trilha Sonora Original.
Em 1942, a Academia passou a dividir as duas categorias por gênero. Uma premiando musiciais e outra premiando dramas. Essa categoria permanceu com mais ou menos esse formato (apesar de inúmeras mudanças de nome) até 1985. A partir de 1986, as duas categorias se fundiram e passaram a ter um formado parecido com o atual, exigindo que a trilha sonora fosse original e composta especificamente para um determinado filme, para poder ser indicada a Melhor Trilha Sonora Original.
Em 1996, no entanto, a Academia voltou novamente a dividir essa categoria por gênero. Na época, as animações da Disney enfrentavam um boom de popularidade e haviam vencido Melhor Trilha Sonora Original em três das últimas cinco edições do Oscar. Por isso, o presidente da Academia, na época, acreditava que filmes dramáticos não tinha mais como competir com as animações musicais da Disney.
Dessa forma, entre 1996 e 1999 essa categoria foi novamente dividida em duas. Uma que premiava trilhas sonoras dramáticas e outra que premiava trilhas sonoras em musicais e comédias. A mudança, no entanto, foi mal vista pela maioria dos membros da Academia e por isso foi revertida depois desse período. Dessa forma, a partir de 2000, essa categoria passou a ser apenas uma e a ter um formato parecido com o atual.
O que o Oscar de Melhor Canção e Trilha Sonora Original premiam
O Oscar de Melhor Canção Original premia a melhor, segundo os membros da Academia, canção original composta especificamente para um filme. Como dito antes, para concorrer nessa categoria, a canção deve ser original e inédita e composta especificamente para um filme. Dessa forma, canções que tenham sido lançadas ou públicadas em qualquer outro lugar antes de serem utilizadas em um filme não são elegiveis a concorrer nessa categoria. Também não são elegíveis nem versões covers e nem remixes de canções já lançadas anteriormente.
Já o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original premia a melhor, segundo os membros da Academia, trilha sonora original composta especificamente para um filme. No caso de trilha sonora, a Academia atualmente exige que pelo menos 35% dela seja totalmente original. Até pouco tempo atrás esse percentual era de 60%. Já no caso de trilhas sonoras em continuações ou filmes que são partes de franquia, 80% dela deve ser original para que ela seja elegível a uma indicação ao Oscar.
No caso de Melhor Canção Original são os próprios estúdios que enviam as canções de seus filmes que eles julgam ter chances de receber uma indicação ao Oscar para a Academia que através de um processo de votação escolhe os pré-indicados e depois os indicados finais. Os estúdios podem enviar até cinco canções por filme. No entanto, muitos deles preferem enviar apenas uma, com medo de que canções do mesmo filme possam competir entre si e levar a uma derrota para uma canção de um filme concorrente.
Critérios de elegibilidade
Além das regras já mencionadas acima, essas duas categorias também estão obrigadas a seguir os critérios gerais de elebilidade da Academia. Dessa forma, as canções e trilhas sonoras que querem ser elegíveis a concorrer nesssas categorias devem estar presente em um filme que tenha estreado entre meia-noite de 1 de janeiro e meia-noite de 31 de dezembro de um determinado ano no Condado de Los Angeles, na Califórnia. Portanto, todas as canções e trilhas sonoras que estão concorrendo ao Oscar desse ano apareceram em produções que estrearam em Los Angeles entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2024, sem exceções.
Além de estrear em Los Angeles, o filme também tem que permanecer em exibição na cidade por pelo menos sete dias consecutivos, sendo exibido em pelo menos três sessões diferentes, sendo que ao menos uma dessas sessões deve ocorrer entre entre 6 da tarde e 10 da noite no horário local. Além disso, filmes em língua estrangeira devem, obrigatoriamente, possuir legendas em inglês.
Lembrando que essas regras valem para praticamente todos os filmes que concorrem ao Oscar em todas as categorias, com exceção das categorias de Melhor Filme Internacional, Melhor Documentário e as categorias dedicadas a premiar curtas-metragens. Lembrando também que na categoria de Melhor Trilha Sonora Original, o lendário compositor John Willams é que tem mais indicações, com 49, no total. Williams é provavelmente o mais importante compositor para cinema vivo. Já o também lendário compositor Alfred Newman é quem tem mais vítórias nessa categoria, com 9 no total.
Quem vencerá a categoria de Melhor Canção Original em 2025.
Nessa categoria, a favorita a vitória desde o início da temporada de premiações tem sido “El Mal”, do filme Emilia Pérez. A produção ainda tem outra canção indicada ao Oscar: “Mi Camino”, mas essa tem pouquíssimas chances de vitória. “El Mal” venceu o Globo de Ouro e o Critics’ Choice Awards e se estivéssemos em outro ano, provavelmente, o Oscar já estaria na mão de Emilia Pérez.
Contudo, é preciso levar em conta mais uma vez o fato de que a campanha de Emilia Pérez ao Oscar foi destruída por postagens ofensivas antigas de Karla Sofía Gascón, atriz principal do filme, no X (antigo Twitter). E esse fato afetará o desempenho de Emilia Pérez em todas as categorias em que ele concorre, inclusive nessa aqui.
Para piorar, nesse ano essa categoria tem sido muito estranha, com canções consideradas fortes concorrentes ao Oscar sendo deixadas de fora até mesmo da lista de indicados. Os exemplos mais evidentes disso, são “Compress/Repress”, de Rivais, e “Kiss the Sky”, de Robô Selvagem. Para piorar a situação de “El Mal”, a canção perdeu o Society of Composers & Lyricists Awards, entregue pela Sociedade dos Compositores e Liricistas e que reúne compositores e músicos atuantes nos Estados Unidos.
Nessa premiação, “El Mal” perdeu justamente para “Compress/Repress”, que como dito antes, nem sequer foi indicado ao Oscar. Outra canção que também venceu essa premiação foi “The Journey”, do filme Batalhão 6888. Essa canção foi composta por Diane Warren que é uma instituição entre os músicos filiados a Academia. Só para se ter uma ideia, Warren tem 16 indicações ao Oscar. Além disso, entre 1997 e 2002, ela foi indicada ao Oscar em todos os anos, com exceção de 2001.
Ademais, entre 2015 e 2025, ou seja, em um período de dez anos, ela só não foi indicada ao Oscar em 2017. Ou seja, Warren é unipresente nessa categoria e existe praticamente uma indicação reservada para ela todos os anos. Apesar disso, Warren nunca ganhou um Oscar competitivo e muita gente acredita que isso pode mudar esse ano. Com o ocaso de Emilia Pérez, parece ficar cada vez mais evidente que “The Journey” tem chances reais de vitória.
Já “Like a Bird” e “Never Too Late” têm poucas chances reais de vitória apesar de “Never Too Late” ser composta e interpretada por Elton John que além de ser uma lenda da música, já recebeu cinco indicações e venceu o Oscar nessa categoria em duas ocasiões. Aliás, tristemente, devido provavelmente ao escândalo envolvendo Emilia Pérez nós perderemos a chance de ver John interpretando essa canção ao vivo no palco do Oscar. Já que esse ano, nenhuma das cinco canções indicadas será interpretada na cerimônia de entrega do Oscar, como vem sendo tradição por décadas.
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
- “El Mal” de Emilia Pérez – Música de Clément Ducol e Camille; Letras de Clément Ducol, Camille e Jacques Audiard (Vencerá o Oscar)
- “The Journey” de Batalhão 6888 – Música e Letra de Diane Warren (Tem Chances de Vencer)
- “Like a Bird” de Sing Sing – Música e Letra de Abraham Alexander e Adrian Quesada (Corre por Fora)
- “Mi Camino” de Emilia Pérez – Música e Letra de Camille e Clément Ducol (Corre por Fora)
- “Never Too Late” de Elton John: Never Too Late – Música e Letra de Elton John, Brandi Carlile, Andrew Watt e Bernie Taupin (Corre por Fora)
Quem vencerá a categoria de Melhor Trilha Sonora Original em 2025
Se na categoria anterior a disputa ainda está aberta, aqui ela parece bem mais definida. Isso porque, Daniel Blumberg tem tudo para levar o Oscar para casa por seu trabalho em O Brutalista. O compositor inglês venceu o Society of Composers & Lyricists Awards e o BAFTA e perdeu o Globo de Ouro e o Critics’ Choice Awards para a dupla Trent Reznor e Atticus Ross, compositores da trilha sonora de Rivais.
No entanto, Reznor e Ross, surpreendentemente, não foram indicados ao Oscar. Aliás, a Academia ignorou completamente Rivais, não lhe dando nem uma indicação ao Oscar sequer. Dessa forma, na ausência de seus principais concorrentes diretos, Daniel Blumberg parece estar com as duas mãos na estatueta do Oscar.
Ainda sonhando com a vitóra estão Volker Bertelmann, de Conclave, e Kris Bower, de Robô Selvagem. Bertelmann já é um compositor com carreira consolidada e, inclusive, já tem três indicações ao Oscar e uma vitória. Já Kris Bowers, apesar da pouca idade, também tem uma carreira recheada de premiações, inclusive, como diretor de cinema. Além disso, Bowers também venceu o Society of Composers & Lyricists Awards e, por isso, pode ser considerado o rival mais forte de Blumberg na disputa pelo Oscar.
Já Clément Ducol & Camille e John Powell & Stephen Schwartz correm por fora com poucas chances reais de vitória. Powell & Schwartz são responsáveis pela trilha sonora de Wicked, que apesar de ser um musical, não deve ter muitas chances no Oscar desse ano, nem mesmo nas categorias musicais. Já Ducol & Camille compuseram a trilha sonora de Emilia Pérez, filme que por motivos alheios a vontade dos dois não deve vencer quase nada no Oscar desse ano.
MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL
- O Brutalista – Daniel Blumberg (Vencerá o Oscar)
- Conclave – Volker Bertelmann (Tem Chances de Vencer)
- Emilia Pérez – Clément Ducol e Camille (Corre por Fora)
- Wicked – John Powell e Stephen Schwartz (Corre por Fora)
- Robô Selvagem – Kris Bowers (Tem Chances de Vencer)