Essa semana, Drew Barrymore foi perfilada pelo importante site norte-americano Vulture. Na longa reportagem, a atriz falou abertamente sobre sua vida e carreira e deu detalhes sobre sua infância e adolescência, as fases mais complicadas de sua vida. Barrymore disse que o diretor Steven Spielberg foi a única figura paterna que ela conheceu na vida. Ele foi “a única pessoa na minha vida até hoje que já foi uma figura parental”, disse ela.
Atriz e diretor se conheceram durante as filmagens do clássico E.T. O Extraterrestre, de 1982, e acabaram desenvolvendo uma ligação muito forte. Spielberg, inclusive, fez inúmeros esforços para que a atriz, na época, com apenas seis anos de idade, continuasse acreditando que o E.T. era uma figura real e não apenas um animatrônico controlado pelo pessoal da produção. Contudo, com algumas semanas de filmagem, a garota percebeu os homens controlando o animatrônico. “Eu não queria estragar tudo”, disse Spielberg a Vulture. “Então eu simplesmente disse: ‘Tudo bem, o E.T. é tão especial, que ele tem oito assistentes. Eu sou o diretor, mas só tenho um’”.
Além disso, o diretor foi além. Ele mantinha alguns membros da produção sempre a postos para que o E.T. pudesse sempre reagir quando Drew interagisse com ele. Chegando a um ponto em que a garota almoçava com o E.T. e contava seus segredos para ele. Spielberg também fez questão de rodar o filme em continuidade, para não “quebrar a magia” e manter Drew engajada na personagem. O que representava um grande esforço, já que todas as cenas tinham que ser filmadas na mesma ordem em que apareceriam no filme.
A ligação entre Spielberg e Barrymore chegou a ficar tão forte, que em determinado momento, ela perguntou se ele queria ser seu pai. Ele disse que não podia. A garotinha pediu então que ele pelo menos aceitasse ser seu padrinho e ele disse que sim. Barrymore passava os finais de semana na casa de Spielberg e ele chegou a dar nome a sua gata e a levar a garota para a Disneylândia e para o Knott’s Berry Farm, outro famoso parque temático da Califórnia.
Spielberg, no entanto, disse que se sentia impotente já que como não era realmente seu pai, não podia fazer mais do que dar-lhe conselhos. “Ela passava muito da hora de dormir, estava indo a lugares dos quais só deveria ter ouvido falar e vivendo uma vida que, naquela idade, acho que roubou sua infância”, disse o diretor a Vulture. Em uma ocasião, inclusive, Barrymore chegou ao escritório do diretor usando um batom vermelho e ele pediu que ela o retirasse. Contudo, ele não podia fazer mais que isso. “Eu me senti muito impotente porque não era o pai dela. Eu só poderia agir como um “conselheiro” para ela”, completou Spielberg.
Pai ausente e precocidade
Drew Barrymore, é filha do também ator John Drew Barrymore e neta do legendário ator John Barrymore, o que faz dela parte de uma das famílias de atores mais respeitadas de Hollywood. O sobrenome famoso a ajudou a começar a carreira muito cedo, ainda bebê. Contudo, foi o papel em E.T. que fez com que sua carreira realmente começasse. Quando a atriz nasceu, seu pai já era um ator decadente e com graves problemas com álcool e drogas. Seus últimos trabalhos foram em 1976 e depois disso, ele se tornou uma figura reclusa, excêntrica e quase mística em Hollywood.
O ator também era um pai e marido problemático, o que fez com que toda a sua família se afastasse dele. Segundo a atriz, John Drew era uma “alcoólatra abusivo”, que abandonou sua mãe e que sua primeira memória do pai é dele “invadindo a casa em que ela estava e jogando sua mãe na parede”. Mesmo assim, a atriz apoiou o pai quando ele ficou doente no início dos anos 2000 e, inclusive, pagou por seu tratamento contra o câncer que acabou o levando a morte, aos 72 anos de idade, em 2003.
Sua mãe, Jaid, assumiu a gerência de sua carreira, mas não era uma figura de autoridade na vida da filha. Essa falta de limites fez com que Drew se tornasse extremamente precoce. Ela começou a beber aos 8 anos de idade, na festa de encerramento das filmagens de Chamas da Vingança (1984). E no ano seguinte, com apenas nove anos de idade, ela experimentou seu primeiro “amasso” com seu próprio meio-irmão. Aos 12 anos, a atriz começou a cheirar cocaína. A sensação de, segundo ela, “voar acima da minha depressão e tristeza” a levou ao vício. Sua mãe, a levava a clubes, festas e a tratava mais como uma amiga do que como uma filha. Jaid, inclusive, chegou a sair com os namorados da filha e depois que a atriz posou nua na Playboy, em 1995, ela também aceitou posar nua no ano seguinte, utilizando o título de “A mãe sexy da Drew”.
Carreira destruída e recomeço
No entanto, foi Jaid quem teve que agir quando o vício da filha pareceu incontrolável e a forçou a se internar em uma clínica de reabilitação. Drew ficou entre internações e recaídas por um ano e meio e quando finalmente saiu de vez da clínica, sua carreira estava muito prejudicada. Ela se emancipou da mãe e tentou seguir fazendo filmes. Contudo, aquela carreira que tinha começado promissora em 1982, já não existia. Drew tinha dificuldades em encontrar papéis bons em filmes grandes e chegou a fazer pontas e atuar em filmes de qualidade mais do que duvidosa.
Ela, inclusive, desenvolveu uma má reputação em Holywood, devido as suas constantes aparições em tabloides e revistas de fofocas e muitos diretores e produtores não queriam nem sequer encontrá-la ou dar-lhe uma chance de competir por papéis em seus filmes. Tamra Davis, diretora de Howard & Anita – Jovens Amantes, filme protagonizado por Barrymore em 1992, de início nem sequer queria encontrá-la. “Ela não tinha uma boa reputação, mas ela veio e disse: ‘Ninguém me leva a sério. Quero provar que eu posso voltar.’ E eu simplesmente me derreti. Eu imediatamente pensei, ‘Oh meu Deus, eu te amo. Farei tudo o que puder para ajudá-lo”, disse Davis.
A diretora foi uma das que mais ajudou Barrymore a retomar sua carreira, permitindo que a atriz, inclusive, morasse por um tempo em sua casa. “Eu apareci na casa dela tarde da noite com meu cesto de roupa suja, e ela disse que eu poderia ficar em seu quarto de hóspedes, e então eu não saí por oito meses”, disse Barrymore. “Eu senti como se ela fosse meio que nossa filha”, disse a diretora a reportagem da Vulture. “Nós propiciamos essa família surreal e estável para ela. Ela pôde morar conosco e se concentrar apenas em ser atriz”.
Entre participações especiais em filmes como Quanto Mais Idiota Melhor 2 (1993), Batman Forever (1995) e Pânico (1996) e papéis de destaque em produções como Quatro Mulheres e Um Destino (1994) e Somente Elas (1995), Barrymore conseguiu aos poucos reerguer sua carreira. E assim, no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, a atriz já estava protagonizado filmes de sucesso, como Afinado no Amor (1998), Para Sempre Cinderella (1998), Nunca Fui Beijada (1999), As Panteras (2000) e Como Se Fosse a Primeira Vez (2004). Desde então, ela não parou mais de atuar e fazer sucesso, deixando no passado uma história que poderia ter tido um final bem menos feliz.