“Como Treinar o Seu Dragão”, começa na remota vila de Berk, frequentemente atacada por dragões, reside Soluço, um jovem viking de estatura baixa e inventivo que não corresponde aos padrões de bravura e força de sua tribo. Ele, ao contrário dos outros, trabalha como aprendiz de ferreiro e investe em invenções, buscando demonstrar seu valor ao seu pai, Stoico, o Imenso, o governante da vila. Em um ataque, Soluço é capaz de derrotar um raro e temido Fúria da Noite com uma de suas criações, porém, não o mata.
Esta decisão transforma tudo. Em segredo, Soluço regressa ao local e constata que o dragão está incapaz devido à lesão na cauda. Motivado pela culpa, ele começa a nutrir o dragão e, aos poucos, estabelece com ele uma relação de confiança. Denominando-o Banguela, Soluço cria uma barbatana artificial e um arreio que possibilitam a sua decolagem conjunta.
Ao treinar escondido com Banguela, Soluço começa a conquistar a sua confiança. Isso causa impacto na aldeia, porém suscita dúvidas em Astrid, uma guerreira comprometida e cética. Ao desvendar o mistério, Astrid é conduzida por Soluço em uma viagem memorável, onde ambos descobrem o ninho dos dragões, protegido por uma criatura monstruosa que domina os outros dragões.
Nos instantes finais do filme, Soluço se nega a sacrificar um dragão durante sua cerimônia de iniciação, revelando sua conexão com Banguela e resultando na captura do dragão por Stoico. A tripulação parte em direção ao ninho dos dragões. Na luta contra o gigantesco Morte Rubra, Soluço e seus companheiros se juntam aos dragões para salvaguardar Berk. Depois de uma batalha arriscada, a aldeia é salva, porém Soluço perde uma parte da perna, recebendo uma prótese. Quando desperta, ele se depara com uma vila modificada, onde humanos e dragões coexistem pacificamente, e é reconhecido como um heroi.
Direção de Como Treinar o Seu Dragão
O diretor de “Como Treinar o Seu Dragão” é Dean DeBlois, um cineasta conceituado e reconhecido por sua sensibilidade às emoções em filmes de animação. DeBlois co-dirigiu “Lilo & Stitch” em 2002, e as sequências de “Como Treinar o Seu Dragão”. DeBlois (junto com Chris Sanders nesse primeiro filme) transformou a história em uma saga mais dramática e épica, com temas de pertencimento, responsabilidade, perda e amadurecimento. Isso trouxe um apelo mais amplo, inclusive para adultos.
Tratou o filme como um drama de ação ao vivo, especialmente nas sequências de voo. Ele trouxe Roger Deakins como consultor de fotografia, o mesmo dos filmes dos irmãos Coen, “Blade Runner 2049“. Essa visão do diretor se consolidou em cenários ricos em detalhes e principalmente profundidade. Dessa maneira, “Como Treinar o Seu Dragão” se mostra super imersivo e realista até certo ponto.
Em que foi baseado esse filme
O filme “Como Treinar o Seu Dragão” é uma animação cinematográfica do romance de mesmo nome, escrito pela autora Cressida Cromwell. O livro foi publicado no ano de 2003. Esse romance é mais um exemplo de como uma produção cinemática pode agregar e tornar uma trama ainda mais profunda e envolvente. O livro tem um tom mais infantil. Por exemplo, o livro tem um tom mais bem humorado, mais leve e infantil.
O maior ponto que foi preservado na animação de 2010, é a natureza da história, “Ser heroi não exige força, mas inteligência e coragem”. O alguns traços desproporcionais “Bocão Banaroca, o Idiota Catastrófico do Início do Século”. A ilustração mostra um viking corpulento com traços exagerados, capturando o humor característico da série. O livro é bem interessante, mas não é direcionado para alguém que quer uma trama madura e complexa.
Direção de arte de Como Treinar o Seu Dragão
Uma das coisas mais interessantes com relação a arte de “Como Treinar o Seu Dragão” é o design dos personagens, sobretudo os dragões do filme. Posto isso, Nico Marlet é o designer que esteve à frente nos conceitos artísticos dessa animação. Sua visão criativa tornou cada personagem único, não de maneira bizarra, mas sim fluída.
O formato de cada Dragão expressa a natureza do mesmo. Isso parece simples, mas para um ilustrador, tornar os personagens memoráveis somente pela silhueta é uma habilidade que requer anos de empenho e estudo. Por exemplo, Gronkel, sua silhueta é pesada, arredondada e compacta, quase como uma mistura de sapo, tatu e pedra. Essa forma transmite instantaneamente algumas características centrais como: lentidão, robustez, e natureza dócil.
A silhueta do Gronkel é tão única que, mesmo em sombra, ele seria reconhecível. Isso cumpre com excelência a ideia de que a forma visual comunica personalidade e função, um dos princípios mais avançados do design de personagens.
Essa relação entre silhueta e personalidade é explorada de forma inteligente durante todo filme. O próprio protagonista, Soluço, é um garoto franzino e pequeno em um contexto totalmente antigo, dominado por vikings brutamontes.
O trabalho de Nico Marlet, se mostrou excepcional, sua capacidade de criar design de personagens está presente em muitos filmes da Dreamworks como “Kung Fu Panda”, “Os Croods”, “Bee Movie”, e muitos outros. De fato, o visual dos personagens é um dos maiores apelos dessa adaptação.
Impacto do filme na cultura pop
“Como Treinar o Seu Dragão” serviu de inspiração para várias outras obras que incluíam dragões. Um exemplo disso é o último episódio da primeira temporada de “House of The Dragon”. O diretor do episódio, Greg Yaitanes, revelou que assistiu ao primeiro filme da franquia animada como parte de sua preparação para dirigir a sequência do confronto aéreo entre Lucerys Velaryon e Aemond Targaryen.
Yaitanes, além da consultoria visual de Roger Deakins, destacou a importância desse filme para inspirá-lo a criar a batalha entre Aemond e Lucerys no episódio 10 da primeira temporada. Isso é só um dos vários exemplos de como “Como Treinar o Seu Dragão” impactou a indústria cinematográfica.
Curiosidades sobre o filme
O filme “Como Treinar o Seu Dragão” é rico em detalhes tanto na trama quanto nos processos de produção. Por exemplo, o diretor Dean DeBlois tem uma forte admiração por Hayao Miyazaki. Em uma entrevista, DeBlois ressaltou a influência de “Meu Amigo Totoro” para sua co-direção em “Lilo & Stitch”. Não seria de se admirar que as cenas em que soluço levanta seu primeiro voo consistente com banguela seja inspirado na icônica cena em que Chihiro voa nas costas de Haku no filme “A Viagem de Chihiro”. Algumas outras curiosidades por trás desse filme são:
Inspiração para animar o Banguela: O animador Simon Otto revelou que os movimentos, expressões e comportamento de Banguela foram baseados em gatos, cães e panteras negras. O resultado é um dragão com gestos super expressivos e realistas.
Final alternativo: Os diretores fizeram um final alternativo. Nesse final, Soluço não perderia sua perna na Batalha contra Red Death. Porém, resolveu não usar esse final, com o intuito de mostrar que a guerra causava perdas reais. Além disso, reforça a ligação com Banguela, uma vez que o dragão também perdeu parte de sua cauda.
Ilha de Berk: As paisagens da Ilha de Berk foram criadas com base em referências autênticas das costas da Islândia, fiordes da Noruega e falésias escocesas, o que resultou em um visual épico repleto de neblina, rochas e um mar impiedoso.
Seja lá qual for as influências que tenham inspirado Dean DeBlois, contribuíram muito para criar cenas emocionalmente fortes, enquanto a ambientação, inspirada em cenários nórdicos, intensifica o caráter místico da narrativa. Mudanças significativas no roteiro, como a opção de retratar as repercussões da guerra, evidenciam o empenho dos autores em construir uma história madura e relevante.
Diferenças entre o livro e o filme
Apesar do filme “Como Treinar o Seu Dragão” preservar a proposta principal do romance, há diversas diferenças gritantes entre o filme e o livro. Por exemplo, no livro o Banguela, é bem menor, e não tem nenhuma condição fisica que o permita carregar um humano nas costas, diferente do livro onde o Dragão negro, é imponente e uma das especies mais temidas desse universo. Algumas das outras diferenças entre a animação e a obra original são:
Astrid: Uma das maiores diferenças entre o livro e o filme, é o papel da Astrid. No livro, ao menos existe, nas animações a personagem desempenha um papel fundamental no equilíbrio emocional sob.
Idade do protagonista: No livro, Soluço tem apenas 10 anos, enquanto no filme o garoto tem 15 anos.
Relação com os dragões: A relação dos dragões com os vikings é bem mais harmoniosa, os dragões são domesticados e são vistos quase como pragas. No filme, logo de início, os dragões são vistos como grandes ameaças.
Tamanho das feras: No filme, Red Death, o maior dragão que é apresentado até o momento, tem 160 metros de comprimento. No livro, isso é inimaginável.
Essas discrepâncias evidenciam como a adaptação para o cinema transformou a essência do livro em uma experiência mais épica e emocional, adaptando elementos para um público mais vasto e para a linguagem cinematográfica. Ao recriar personagens, relações e até mesmo a dimensão do mundo, o filme estabelece sua própria identidade – distinta, porém ainda arraigada no espírito do trabalho original.
Trilha sonora de Como Treinar o Seu Dragão
Sem dúvidas, o ponto mais marcante do filme é a trilha sonora composta pelo ilustre John Powell. O compositor já produziu álbuns para grandes sucessos como O Ultimato Bourne, A Era do Gelo 2, Happy Feet, Hancock, entre outros. Em Como Treinar o Seu Dragão, o maestro construiu melodias épicas, que despertam uma sensação de liberdade e conexão. Um exemplo claro disso é a faixa “Test Drive”, não interessa de qual país você é, essa música vai fazer você se arrepiar.
A melodia começa de forma suave e vai ganhando força à medida que os dois ganham confiança e velocidade. É uma música que realmente se sobressai, se elevando até mais do que as próprias cenas.
Na cerimônia do Oscar de 2011, essa adaptação recebeu uma indicação ao Oscar de melhor trilha sonora, e perdeu para o filme “O Discurso do Rei”, o que não faz muito sentido. Talvez um dos motivos para isso é que a academia beneficia álbuns que não dominam as cenas, mas as reforçam de forma discreta, pelo menos naquele ano.
Conclusão
“Ele não é como os outros. E eu também não sou”. Essa frase resume bem a essência do filme, de achar seu lugar no mundo, e não de chorar para que o mundo te acolha. o momento em que Soluço escolhe trilhar seu próprio caminho, guiado pela conexão com o dragão que deveria temer.
Apesar de essa adaptação ter ousado se afastar do material original com liberdade criativa, e isso só agregou valor à obra, tornando-a mais rica, profunda e acessível a públicos de todas as idades. Diante de tamanha qualidade artística e emocional, é difícil não sentir que esse filme merecia ter levado muito mais prêmios do que levou.
Por fim, espero que essa análise tenha refinado sua percepção do filme “Como Treinar o Seu Dragão”. Continue nos acompanhando para estar por dentro das principais notícias da cultura pop. Até a próxima!