Análise | O Poderoso Chefão

O Poderoso Chefão
O Poderoso Chefão - Imagem: Paramount Pictures

Em “O Poderoso Chefão” (The Godfather, 1972), a narrativa foca na influente família criminosa Corleone, chefiada por Vito Corleone. Durante a celebração do matrimônio de sua filha Connie, Vito está envolvido em negócios escusos, incluindo a ajuda ao seu afilhado, Johnny Fontane, para que ele consiga um papel em um filme. A recusa de Vito em se envolver com o tráfico de drogas, sugerido pelo narcotraficante Sollozzo, dá início a uma série de agressões. Após uma tentativa de assassinato de Vito, seu filho Michael, que até então se mantinha distante das atividades da família, toma uma decisão inesperada ao eliminar Sollozzo e o corrupto capitão McCluskey em vingança.

Michael se refugia na Sicília, onde estabelece matrimônio com Apollonia, mas enfrenta uma nova tragédia com a morte dela em um atentado. A jovem esposa estava dentro do carro, que um dos próprios capangas de Michael implantou uma bomba. Enquanto isso, nos Estados Unidos, o conflito entre as organizações mafiosas se intensifica, levando à morte brutal de Sonny, o filho mais velho de Vito. O cunhado de Sonny, Carlo Rizzi, havia atraído para uma emboscada, Exausto com tantas perdas, Vito busca uma trégua, permitindo que Michael retorne e assuma o comando da família após o falecimento de seu pai.

Michael cria uma estratégia cuidadosamente planejada para fortalecer a influência dos Corleone. Enquanto ocorre o batismo de seu sobrinho, ele dá a ordem para matar os chefes rivais e se livrar de traidores, como Tessio e Carlo, o esposo violento de Connie. A última cena retrata Michael sendo visto como o novo Don Corleone, enquanto mente para Kay sobre seu papel na morte de Carlo, evidenciando sua evolução de heroi militar para um implacável chefe da máfia.

Direção do filme O Poderoso Chefão

“O Poderoso Chefão” é sem dúvidas umas das obras mais icônicas da indústria cinematográfica. O longa estreou nos Estados Unidos em 1972, e contou com a direção de Francis Ford Coppola, que se destacou, ao meu ver, pelo desenvolvimento caprichoso dos personagens.

“Não é pessoal, são apenas negócios”, é uma frase que está presente a todo momento do filme. Um dos principais valores que o filme nos apresenta é a impessoalidade. O diretor conseguiu integrar a impessoalidade, que é um conceito tão abstrato, a narrativa do filme tornando um dos elementos mais cativantes.

Todos os personagens mostrados nesse longa são indiferentes, firmes, e implacáveis. De fato, todos estes são atributos que a maioria das pessoas deseja conquistar. Em outras palavras, o desenvolvimento dos personagens se mostra como um dos pontos mais fortes de “O Poderoso Chefão”. 

Esse desenvolvimento foi o que mais me chamou a atenção no filme, se mostra reflexo de um roteiro pontualmente bem construído por Mario Puzo juntamente com Coppola.

Os diálogos mostram como a narrativa busca despersonificar o conflito e tratar a violência como ferramentas racionais em um sistema maior. Obviamente isso advém do romance em que este filme foi inspirado, mas Francis Ford Coppola e Mario Puzo tiveram um papel essencial para tornar essa obra uma das mais memoráveis do cinema.

As cenas de “O Poderoso Chefão” são ricas em ação, e figuras enigmáticas. Apesar de serem fictícias convencem facilmente o espectador, se aproximando fielmente da influência que as famílias da máfia italiana exerciam antes de 1980. Portanto, a direção de “O Poderoso Chefão” transcende as décadas se mostrando uma obra envolvente até os dias atuais.

Crítica

No tópico anterior falamos de um dos valores presente no filme, a impessoalidade, porém isso é só um dos valores que traz significado e profundidade a trama. A família Corleone é sinônimo de dinheiro, influência, e poder. Contudo, o conceito de família, como um elo majoritário, colocado como bem maior. Isso dá sentido à um homem, sendo a maior riqueza que o mesmo poderia ter. 

Nesse sentido, podemos destacar o atentado contra Vito Corleone (O Patriarca), vemos as consequências desastrosas que isso causou na família. Sem a sabedoria do pai, os filhos impulsivos começam a planejar e executar a morte do algoz, Virgil Sollozzo. O  evento culmina em uma retaliação e a morte brutal do irmão mais velho, Sonny. 

Em paralelo aos negócios da família, podemos acompanhar de forma sutil, a vida de Connie Corleone desde o início do filme com o casamento, a sua vida doméstica, até o último ato. A vida da irmã caçula é marcada por um relacionamento abusivo por parte do marido. Esse contraste da figura protetora e o carrasco nos convida a refletir sobre o que um homem deve e não deve ser.

Produções cinematográficas que carecem de significado é um dos maiores problemas na indústria, atualmente. E é nesse ponto que “O Poderoso Chefão” supera a boa parte dos lançamentos atuais, pois o filme foca em relações e conexões humanas.

Tudo isso, após cinco décadas, é capaz de causar um impacto duradouro para os amantes do cinema. Por fim, o Rotten Tomatoes em uma escala de mais de 250 mil votos o filme alcançou uma aprovação de 98%.

Em que foi baseado o filme?

O filme é uma adaptação do romance escrito por Mario Puzo, e o dia de sua estreia foi em 10 de março de 1969. A edição que normalmente achamos nas lojas digitais tem em torno de 450 páginas, é uma obra bem robusta. 

Há diversas curiosidades por trás deste romance, um exemplo disso são alguns personagens da obra, baseados em pessoas reais. Posto isso, de acordo com um artigo da Coursehero intitulado “The Godfather | 10 Things You Didn’t Know” Dom Corleone foi inspirado em um mafioso chamado Frank Costello, o senso do patriarca em valorizar a família foi inspirado na mãe do autor e diversas outras curiosidades permeiam o romance. 

Por fim, apesar de ser um romance longo, vale a pena aproveitar essa trama através do livro, pois lá há uma diversidade de detalhes a mais que no filme.

Melhores cenas de O Poderoso Chefão

Sonny sendo fuzilado
Sonny sendo fuzilado – Imagem: Paramount Pictures

“O Poderoso Chefão” apresenta uma cinematografia caprichosa, ainda mais quando levamos em conta a época de produção. Tanto os cenários quanto a caracterização dos personagens se mostram naturais e belos de se ver. O filme possui diversas cenas memoráveis que se destacam pelo apelo emocional e a violência. Algumas das cenas mais memoráveis são:

Prólogo: Logo de cara o filme começa com o casamento de Connie. E vemos Don Corleone (O Pai), ajudando os seus familiares. Aqui notamos uma certa recorrência de parentes movidos pelo egoísmo, achar conforto e justiça no chefe da família. 

Connie Corleone é espancada: Uma das cenas mais chocantes do filme é quando Carlo começa a agredir com um cinto Connie, que está grávida de alguns meses. A atuação de Talia Shire é de Gianni Russo, nessa cena, é comovente e espantosa. 

O fuzilamento de Sonny: Quando Sonny sai para livrar sua irmã caçula do marido agressor, é emboscado por pelo menos uma dezena de homens armados com metralhadoras. Os disparos só cessam quando o corpo de Sonny está quase que inteiramente desfigurado. As famílias da máfia são, crueis e impetuosas, quando os negócios passam pro lado pessoal.

Ascensão do novo chefe: No último ato em paralelo ao batismo do filho de Connie, uma retaliação aos inimigos da família começa a ser executada. Figuras como Philip Tattaglia, Emilio Barzini, Carmine Cuneo, Victor Stracci, Moe Greene, e Connie (Carlo Rizzi), são mortos. Isso marca simbolicamente a transição de Michael para um líder implacável.

Essas foram as cenas que se fixaram na minha cabeça, e que não vão sair por um bom tempo. Portanto, “O Poderoso Chefão” tem uma duração de pouco mais de 3 horas e de forma alguma é um massacre e cansativo, capaz de nos prender a todo momento.

Diferença entre o filme e o livro

“O Poderoso Chefão” adapta o romance escrito por Mario Puzo. O filme tem um espaço de 3 horas para contar a história da família Corleone, mas alguns detalhes interessantes foram modificados com relação à obra original. 

Apollonia não morreu sozinha: Após Michael Corleone matar Sollozzo, e partir rumo ao seu exílio na Itália, ele conhece uma bela mulher. Não demoraria muito para que as represálias alcançassem o novo amor Michael. Em um certo dia enquanto Apollonia esperava Michael, o carro explodiu matando somente ela. No livro, Calo (Capanga de Michael) está ao lado dela e também morre.

Fabrizio não consegue se safar: No filme, Fabrizio planta o explosivo que mata Apollonia, e não é mostrado se ele sofre alguma consequência disso. No livro, o traidor é executado a tiros em uma pizzaria.

Deixe a Arma, pegue o cannoli: A frase “Deixe a Arma, pegue o cannoli” não está presente no livro, isso foi originado no filme. De fato, é uma dos momentos mais cômicos do filme. 

Lucas Brasi, o “injustiçado”: No primeiro ato, o mafioso Lucas Brasi é encarregado de se infiltrar no território inimigo para coletar informações. Ele foi contido e estrangulado brutalmente. No livro, ele fez coisas horríveis como incinerar seu próprio bebê, e matar sua namorada.

Há muitos outros detalhes no livro que não estão presentes no filme. Ler o romance escrito por Mario Puzo nos possibilita ver o filme com outras perspectivas. Portanto, esses detalhes tornam a obra bem mais interessante e rica.

Referências de outras outras obras ao filme

“O Poderoso Chefão” estabeleceu vários elementos visuais e simbólicos, elementos que fazem parte até mesmo de obras mais recentes, como por exemplo Peaky Blinders. Vemos muito do Vito Don Corleone em personagens como Tony Gordo da série Os Simpsons. A marca que esse filme deixou na cultura pop foi bem grande e importante, pois, não é incomum vermos personagens, cenários, e sátiras, referenciando essa aclamada obra. Algumas dessas referências são:

Todo Mundo Odeia o Chris, Temporada 4, episódio 17: Neste episódio podemos ver a referência a frase “Deixe a Arma, pegue o cannoli”, onde o protagonista da série troca para a frase “Largue a arma, pegue a jujuba”.

Zootopia: No filme Zootopia, em determinado momento Nick e Judy se encontram com O Mr. Big. Não só Mr. Big se assemelha a aparência de Don Corleone, como fazem referência ao discurso que Don faz a Amerigo Bonasera  no início do filme.

Total Drama: Na série animada “Total Drama” especificamente na temporada 2 –  episódio 3, Chef usa as palavras “Seja Homem” para DJ. Isso é uma referência a cena em que Don Corleone sacode em Johnny, e o dá um tapa simbólico mandando o mesmo virar homem.

Essa são só algumas referências que pude encontrar, mas há dezenas e mais dezenas que podem achar em diversas obras já lançadas. De fato, podemos concluir que o arquétipo do “padrinho” ficou tão bem construído em “O Poderoso Chefão”, que encaixa-lo de forma caricata em outras obras é fácil, é simplesmente genial.

Orçamento e bilheteria

“O Poderoso Chefão” foi produzido na década de 70, e não há uma cinematografia mirabolante com efeitos especiais exagerados. Em comparação com os padrões atuais, os atores daquela época não exigiam salários astronômicos, o próprio Al Pacino estava no início de sua carreira. A soma desses e de outros fatores possibilitou que o filme fosse produzido com um orçamento de US$ 6 milhões. 

A quantia é ridícula se comparada à receita que gerou estimada em torno de US$ 250 milhões. O filme O Poderoso Chefão obteve um retorno de aproximadamente 41,67 vezes em relação ao seu custo de produção. Dessa forma, isso demonstra o tamanho da qualidade do trabalho de Francis Ford Coppola e todos os envolvidos no projeto.

Trilha sonora de O Poderoso Chefão

As melodias em “O Poderoso Chefão” foram compostas pelo músico italiano Nino Rota. As composições, ajudam de forma relevante nos conduzir a narrativa suburbana das ruas de Nova York, como por exemplo “The Pickup”. “Love Theme From – The Godfather”, exala a imponência da família Corleone, ao mesmo tempo que guarda temas como amor e tragédia, se mostrando como uma das mais, emocionalmente profundas, melodias já criadas no cinema. O som de “Love Theme From – The Godfather” se tornou um dos elementos que contribuiu grandiosamente para a eternização deste filme.

Quando escutamos a trilha sonora “O Poderoso Chefão”, podemos identificar também um tom que permeia atmosferas repletas de malícia como podemos ouvir na faixa “The Baptism”. Podemos reforçar ainda mais isso levando em conta o  contexto em que a melodia foi tocada, quando o plano de Michael estava sendo executado durante o batismo de seu sobrinho, e todos os inimigos da família Corleone sendo assassinados de uma forma terrível. Portanto, a trilha de “O Poderoso Chefão” é, sem dúvidas, um de seus pontos mais fortes.

Conclusão

“Um homem que não se dedica a família, não é um homem de verdade”, essa é uma das frases mais famosas da saga “O Poderoso Chefão”. Apesar de vermos o filme com os olhos da virtude, esse universo criado por Mario Puzo, é ironicamente, recheado por homens capazes de fazer monstruosidades não em prol da família mas sim em benefício próprio. 

Dessa forma podemos refletir sobre esse tal código de conduta, e como parece ser somente uma fachada para justificar as ações inescrupulosas das máfias. Cabe a nós reter o que há de mais virtuoso no filme ou não, deixe sua opinião nos comentários sobre isso. 

Chegamos ao fim de mais uma análise, espero que tudo, escrito aqui, te ajude a aproveitar melhor o filme “O Poderoso Chefão”. Para você que tem uma “oferta irrecusável”, continue acompanhando a Proddigital Pop para receber em primeira mão as principais notícias da cultura pop. Até a próxima!

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