“Clube da Luta”, começa com o personagem principal, cuja identidade nunca é revelada, leva uma vida monótona e desagradável, caracterizada por uma insônia constante e descontentamento com seu emprego na empresa. Ele começa a participar de grupos de suporte para pessoas com doenças sérias, mesmo sem possuir nenhuma. A vivência devolve a sensação de vida e melhora temporariamente o seu sono. Contudo, a chegada de Marla Singer, uma mulher que também se faz de paciente para alcançar conforto emocional, perturba sua tranquilidade e provoca um retorno da insônia. Eles dividem os dias de participação nos grupos para evitar contato direto.
Em uma viagem de negócios, o narrador se depara com Tyler Durden, um vendedor de sabão peculiar com pensamentos anticonsumo. Depois de uma explosão enigmática devastar seu apartamento, ele se transfere para uma casa desabitada onde vive Tyler. Os dois fundam o Clube da Luta, um local oculto onde os homens liberam suas frustrações através de confrontos corporais. Tyler inicia um relacionamento com Marla, o que causa desconforto ao narrador, porém ele não toma nenhuma atitude.
À medida que o clube se expande, Tyler o converte no Projeto Destruição, uma entidade radical que realiza sabotagens em prol de uma revolução social. O narrador, ao perceber os riscos da ação, tenta detê-la e descobre que ele e Tyler são a mesma pessoa – duas faces de uma mente dividida. Ao notar que o objetivo final é detonar edifícios de instituições financeiras para quitar dívidas, o narrador tenta impedi-lo. Em uma luta consigo mesmo, ele dispara contra si mesmo para eliminar Tyler.
No final, com os edifícios desmoronando ao fundo, ele aperta a mão de Marla, sinalizando uma possível retomada.
Direção do filme Clube da Luta
Quem dirigiu o filme “Clube da Luta” foi o diretor David Fincher, o mesmo diretor que esteve à frente de Thrillers como “Se7en: Os 7 Crimes Capitais”, “Zodíaco”, “Alien 3” entre outros. A identidade visual do diretor é caracterizada por combinar precisão técnica, estética sombria e temas psicológicos intensos, sobretudo uma Iluminação Baixa e Contrastada.
Quando falamos de “Clube da Luta”, já imaginamos um filme que se popularizou mundialmente sem nenhum motivo. Afinal de contas, o filme retrata pessoas comuns, não apela para o absurdo. O que o filme passa, à primeira vista, é que há segredos que não devem sair do “Clube da Luta”. Essa foi uma das maiores cantadas já feitas no marketing de um filme. A ideia de envolver o público com os valores e princípios presentes dentro da própria trama, possibilitou criar uma comunidade forte.
Agora falando sobre o filme em si, a trama gira em torno dos conflitos internos de um homem que trabalha incessantemente, solitário, e sem perspectivas. Isso te lembra alguém? O próprio protagonista narra o filme, acontece quebra na quarta parede, isso tudo nos “puxa” ainda mais para dentro da história. Apesar de podermos ver tudo tudo que há no filme, as descrições do narrador, tornam tudo mais interessante. Lembra bastante filmes como “A Grande Aposta”, que também usa esse contato direto com o espectador para prender a atenção.
Além disso, a dinâmica das câmeras guia nosso olhar de forma pontual. Por exemplo, no início do filme o narrador começa a história com uma arma apontada na sua própria boca, um close up é” da sua face desesperada”, nos passa um sensação de sufoco e agonia. Portanto, o trabalho de Fincher nesse filme foi excepcional.
Em que foi inspirado o Clube da Luta?
A princípio, “Clube da Luta”, se destaca por ser uma história moderna, boemia, em um ambiente urbano simples. Essas características foram criadas por Chuck Palahniuk, e publicado em 1996 no formato de livro. Contudo, o filme não só foi influenciado pela obra original, mas também por uma variedade de influências filosóficas, culturais e estéticas da contemporaneidade.
Além disso, há algumas diferenças entre a obra original e a adaptação. Um exemplo disso é que o personagem principal sobrevive após cometer suicídio, porém acorda em um hospital psiquiátrico, convencido de que está no paraíso. Os integrantes do Projeto Caos prosseguem com suas tarefas e afirmam que “aguardam seu retorno”. No filme, o Narrador atira na própria boca, e assim recupera o controle da sua mente. Portanto, essa obra escrita por Chuck Palahniuk é muito envolvente e original, vale muito a pena lê-la.
Impacto cultural desse filme
De fato, “Clube da Luta” se perpetua na cultura pop, é uma das obras que consegue atravessar décadas, sem ser rotulada como uma obra datada e chata. Dessa forma, isso se reflete em outros filmes e séries que optam por reviver momentos de “Clube da Luta”. Alguma das série que já referenciar esse filme, são:
Community Temporada 3 – Episódio 11: Um episódio acerca de uma disputa de travesseiros evoca o “clube da luta”, com suas regras e estéticas similares, ajustando a ideia ao contexto cômico da série.
O Mr. Robot (2015-2019): Possivelmente a mais explícita homenagem. Como narrador, Elliot descobre que seu mentor cativante (Mr. (Robot) é um reflexo de sua própria consciência. O Clube da Luta ecoa a estrutura narrativa, a estética urbana obscura e a crítica à sociedade consumista.
O Clube da Luta ultrapassou, acima de tudo, a condição de filme para se transformar em uma linguagem, em outras palavras, um método específico de tratar a masculinidade, a alienação contemporânea e a insatisfação com o sistema. Essa proposta é um dos elementos que mais torna o filme atemporal.
Melhores cenas de Clube da Luta
O Clube da Luta se destaca por várias de suas cenas memoráveis. Como por exemplo, o momento em que o narrador imagina uma colisão no avião em que se encontra. O filme, gradualmente se torna mais e mais caótico, e nos apresenta vários personagens carismáticos como Bob. Algumas das melhores cenas são:
“Spin City” Toy Story: O prefeito convida Stewart e Paul para se juntarem ao “Splinter Group”, uma espécie de grupo oculto. Com uma voz solene e enigmática, ele impõe a principal regra: “não falem sobre o Splinter Group”. Uma evidente e divertida alusão à regra do Clube da Luta, empregada aqui de maneira cômica.
O jeito certo de fazer sabonete: Tyler trabalha produzindo sabonete. Em determinado momento vemos o Narrador e Tyler, roubando a gordura descartada de uma clínica de lipoaspiração. É a cena mais grotesca, e é marcante pelo tom cômico.
O Clube da Luta: Após uma conversa existencial, Tyler pede ao narrador que o acerte. Eles brigam no estacionamento do bar, descobrindo prazer na dor física. A experiência é libertadora e os conecta. Esse momento espontâneo marca o nascimento do Clube da Luta, que logo atrai outros homens buscando escape e identidade.
Dois lados: No último ato, é revelado que Tyler nada mais é que um fruto da imaginação do Narrador. O Narrador atira na própria boca sobrevivendo, milagrosamente, e matando seu alter ego. O filmes termina com o Narrador e MArla, contemplando várias sedes de grandes corporações desmoronando,
Clube da Luta vai além de ser apenas um suspense psicológico: é uma dura crítica ao vazio do consumismo, à masculinidade contemporânea e à procura incessante por sentido em um mundo artificial. O filme, com seu humor ácido, reviravoltas perturbadoras e uma estética fria e calculada, converte violência em metáfora, identidade em ilusão e caos em catarse.
Trilha sonora do filme
A trilha sonora desse filme foi composta por The Dust Brothers. A dupla não contribuiu para grandes sucessos do cinema além de “Clube da Luta”. Porém, já fizeram música para “Uma Vida Menos Comum” e “Império dos Sonhos”. The Dust Brothers fizeram um trabalho magistral nessa adaptação.
“Who Is Tyler Durden?” é, acima de tudo, uma das canções mais emblemáticas do disco e pode ser vista como o tema não oficial do filme. De fato, ela está presente em momentos cruciais da história, especialmente quando o enigma acerca da identidade de Tyler Durden começa a se tornar mais evidente.
Em geral, o álbum de “Clube da Luta”, destaca-se por músicas com o tom irreverente, através de samples eletrônicos repetitivos. Além disso, efeitos sonoros colados ao estilo do trip hop e do breakbeat. Dessa maneira, esses sons realçam a atmosfera urbana, moderna, da trama.
Conclusão
“É isso que um homem deveria ser?”Essa frase é dita quando o narrador e Tyler se encontram dentro de um ônibus, observando um cartaz publicitário da Calvin Klein e da Gucci, que mostra um homem com o abdômen trincado, vendendo cuecas. Então, Tyler comenta com desdém.
Em ultima análise, “Clube da Luta” trata-se de uma crítica direta à maneira como os valores materiais substituíram as cerimônias tradicionais de afirmação masculina, deixando os homens desorientados, anestesiados e sedentos por algo concreto, o que origina o próprio “Clube da Luta” como um meio de fuga. Particularmente, sou um entusiasta do capitalismo, mas é inegável que a forma como o consumismo é tratado nesse filme é bem inteligente.
Chegamos ao fim de mais uma análise, Clube da luta é um dos melhores filmes do cinema. Espero que de alguma forma, essas palavras tenham ampliado sua visão sobre essa adaptação. Até a próxima!
