Em “Alice no País das Maravilhas” (2010), Alice Kingsleigh, agora com 19 anos, está em um momento decisivo de sua vida, lidando com a perda do pai e as pressões sociais. Durante uma festa, ela foge após receber uma proposta de casamento indesejada e segue um coelho branco até uma toca, caindo no misterioso mundo de Wonderland (País das Maravilhas). Lá, ela descobre que é a escolhida para derrotar o temido Jabberwocky e libertar o reino da tirania da Rainha Vermelha, que usurpou o trono de sua irmã, a Rainha Branca.

Alice reencontra personagens icônicos, como o Chapeleiro Maluco, o Gato Cheshire e o Coelho Branco, que a ajudam em sua jornada. Apesar de acreditar estar sonhando, ela é informada pela Lagarta Absolem de seu destino. Entre batalhas e reviravoltas, Alice infiltra-se no castelo da Rainha Vermelha, rouba a espada voraz, e finalmente enfrenta o Jabberwocky em uma batalha épica.

No final, Alice decapita o Jabberwocky, selando a vitória da Rainha Branca e o fim da tirania. Com a missão cumprida, ela retorna ao mundo real, recusando o casamento e decidida a seguir seu próprio caminho como aprendiz de negócios. O filme encerra com Alice embarcando em uma nova aventura, enquanto Absolem, agora uma borboleta, pousa em seu ombro, sugerindo que sua conexão com o mundo fantástico ainda não terminou.

O filme, com a direção visionária de Tim Burton, combina fantasia, aventura e reflexões sobre identidade, resultando em uma reimaginação visualmente deslumbrante e emocionalmente rica da clássica obra de Lewis Carroll.

Como o filme impactou a filmografia de Tim Burton?

Alice no País das Maravilhas lançado em 2010 foi dirigido por Tim Burton. O cineasta “calejado” por dirigir um extenso histórico de filmes, produções incríveis em sua maior parte, decepcionou o público na sua vigésima sexta direção. As críticas mais negativas e mais recorrentes estão envoltas no uso indiscriminado de efeitos de computação gráfica e o enredo com um desenvolvimento superficial.

Como um dos simpatizantes das obras de Burton sou suspeito de dar qualquer opinião. Porém para os que leram a obra original puderam perceber pontos específicos que destoam da narrativa original. Por exemplo, a interpretação do poema “Borogoves” ao invés de “Borogroves”. Além disso, o grande protagonismo da Espada Vorpal ofusca o fator principal do conto que não é Alice, mas sim a evolução de sua personalidade.

Se o cineasta tivesse optado por preservar os simbolismo intrincados na personalidade de cada personagem do livro somada com a atmosfera mais sombria que tanto caracteriza as obras do diretor, de fato teremos uma obra tão boa quanto a animação “Alice no País das Maravilhas” lançada no ano de 1951.

Melhores momentos do filme Alice no País das Maravilhas

Por apresentar uma estética única, Alice no País das Maravilhas se destaca por projetar bem o universo fictício criado por Lewis Carroll. Os animais cuja a postura é a personalidade muito se assemelha com as dos humanos ficaram convincentes, os detalhes na textura dos pelos do Capturandam é um exemplo claro do trabalho meticuloso feito pela equipe de design. Todo esse capricho rendeu cenas muito boas, como por exemplo:

A chegada no País das Maravilhas: Logo após Alice cair no buraco e ajustar o seu tamanho ao tamanho mínimo da porta, ela consegue contemplar um mundo surreal. O plano geral mostrado nessa cena nos faz imergir pela primeira vez na história do cinema, no mundo criado por Lewis Carroll da forma mais real possível até então. 

A execução do Chapeleiro: Quando o carrasco golpeia o Chapeleiro, percebemos que a real identidade daquele condenado era na verdade Cheshire. Sem dúvidas, essa cena é um dos momentos mais bem construídos do filme.

A batalha contra o Jaguadarte: Jaguadarte, o antagonista final do filme, é um Dragão enorme capaz de destruir povoados inteiro com seu fogo. O encontro de Alice e essa fera enorme acontece em um campo de batalha apocalíptico. Além de mostrar um cenário alucinante, vemos que a versão do monstro é bem menos assombrosa se comparada a versão do livro.

De fato, o visual estético parece levar a maior parte dos méritos do sucesso que o filme teve. Portanto, é essa estética que possibilita assistir essa produção e ao mesmo tempo evitar a monotonia. 

Diferenças entre o livro e o filme

Apesar de Alice no País das Maravilhas (2010) não ser um remake fiel da obra original de Lewis Carroll, o filme traz mudanças significativas nas características daquele mundo fantástico. Essas diferenças, embora não alterem a essência da trama, são interessantes ao serem vistas pela ótica de Tim Burton.

O Chapeleiro Maluco: 

  • No livro, esse personagem é caracterizado por uma cabeça enorme e desproporcional ao resto do corpo. Além disso, tem uma personalidade bem mais ríspida com a Alice.

Cheshire o gato:

  • No livro, vemos que Cheshire além de ter a capacidade de desaparecer e aparecer do nada, também pode aumentar consideravelmente de tamanho.

Croquet com Flamingos:

  • No livro, a Rainha Vermelha é sua corte tem o hábito Croquet, uma mistura de golfe e cricket com uma série de regras aleatórias e sem sentido. No filme, o jogo não tem nada de caótico.

O Jaguadarte: 

No livro, bem no final do conto podemos ler um poema sobre o Jaguadarte e uma bela ilustração da fera. Seus olhos reputados como antenas e cabelos, um corpo fino muito semelhante a de um inseto. No filme, a aparência dele é bem mais harmoniosa e agradável. 

Essas mudanças podem parecer sutis, mas ajudam a moldar a visão particular de Tim Burton, que equilibra elementos bizarros com uma estética que se inclina mais para o fantástico do que para o absurdo completo do original.

Crítica

Alice no País das Maravilhas é uma produção que está presente na lista de “filmes para dias de chuva” de muitos cinéfilos, inclusive deste que vos escreve. Contudo há mais pontos abaixo além do que já foram mencionados até agora. Posto isso, algo que me deixou com “Uma pedra no sapato” é o fato do filme não ser um remake, mas sim uma continuação dos livros e apresentar uma sequência de eventos muito semelhante a dos livros. 

Dessa forma, podemos destacar a cena do quarto onde Alice cai no Buraco, muda de tamanho dentro da sala, entrar no país das maravilhas, o encontro com o gato Cheshire, o chá com a lebre de março e muitos outros acontecimentos do filme presente no livro. Isso parece tornar desnecessário toda a reimaginação que o filme recebeu.

Em conclusão, “Alice no País das Maravilhas” (2010), embora tente se apresentar como uma continuação, muitas vezes recorre à mesma sequência de eventos icônicos dos livros, o que enfraquece a proposta de reimaginação. A familiaridade dessas cenas pode agradar fãs nostálgicos, mas também levanta a questão sobre o quão necessário era um novo capítulo na jornada de Alice, se os eventos não diferem tanto da narrativa original. Ainda assim, o filme encontra seu valor nas mãos de Tim Burton, que oferece uma estética visual única e personagens envolventes. No final, apesar das escolhas narrativas previsíveis, é a visão criativa que o mantém na lista de “filmes para dias de chuva” de muitos cinéfilos.

Desempenho do filme nas bilheterias

A produção dirigida por Tim Burton mostrou um grande anseio do público em ver esse universo adaptado em Live Action. A maior prova disso é a receita exorbitante que Alice no País das Maravilhas arrecadou nos cinemas ao redor do mundo de US$1 bilhão.

Dessa forma o filme ocupou o ranking de segunda lugar entre as maiores bilheterias de 2010 perdendo somente para “Toy Story 3”. Alice no País das Maravilhas superou as bilheterias de filmes como Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1, A Origem, A Saga Crepúsculo Eclipse, e muitas outras produções de “peso”.

O sucesso financeiro de Alice no País das Maravilhas (2010) evidencia o imenso apelo que o universo de Lewis Carroll ainda possui, especialmente quando aliado à visão criativa de Tim Burton. Essa conquista reforça como o filme conseguiu cativar tanto fãs da história original quanto uma nova geração, garantindo seu lugar entre os maiores êxitos cinematográficos de 2010.

Curiosidades do filme Alice no País das Maravilhas

Alice no País das Maravilhas é um universo rico em detalhes aleatórios e acima de tudo propositais. Em outras palavras, há bastante detalhes presentes no filme que tem relação direta mas não exclusiva com alguns dos traços de personalidade do autor Lewis Carroll. Alguns desses traços são:

Jogo de palavras: Quando vemos o Chapeleiro Maluco investigando palavras que começam com determinadas letras, ou palavras inventadas dentro do filme, nada mais é do que o hábito do autor original em criar e brincar com palavras.

Síndrome de Todd: Alice encolhe e cresce recorrentemente no filme, isso pode estar relacionado a síndrome de Todd que acometia o próprio Lewis Carroll na infância. A síndrome se caracteriza pela sensação de ter partes do corpo ou outro objetos maiores ou menores do que realmente são na realidade. 

Quebra de um estigma: A obra original “Adventures in Wonderland” se posiciona até hoje como um dos livros infantis mais rentáveis. O que muitos não sabem é que Lewis Carroll além de um gênio da escrita também era um matemático bem conceituado.

Em resumo, Alice no País das Maravilhas não é apenas uma fantasia visualmente rica, mas também uma obra que reflete muitos aspectos da mente de Lewis Carroll. desafiando estigmas e demonstrando como sua obra transcende o simples entretenimento infantil para se tornar um terreno fértil de interpretações psicológicas e intelectuais.

Trilha sonora de Alice no País das Maravilhas

“Como você pode saber desta forma e não daquela?
Você escolhe a porta, você escolhe o caminho
Talvez você devesse voltar
Outro dia, outro dia
E nada é bem o que parece
Você está sonhando! Você está sonhando! Oh, Alice!” – Danny Elfman/From “Alice in Wonderland”

Podemos começar destacando o tema principal do filme “From – Alice in Wonderland”, que se mostrou verdadeiramente emocionante. Essa canção explora o uso de coros conduzidos em colcheia, e com uma melodia crescente. A letra dessa canção, resume toda a proposta do filme e, de fato, preserva a profundidade da jornada de Alice. Dessa maneira, não é exagero afirmar que há muito mais riqueza na faixa musical do filme do que no próprio roteiro.

A primeira vez que li o livro, imaginava que sentimentos um gato misterioso com um sorriso maligno poderia me causar. Posto isso, “The Cheshire Cat” me fez ter uma ideia dessa sensação. Essa música tocada ao fundo assim que Cheshire surgia do nada, torna este personagem, que é um dos mais cativantes do conto, ainda mais enigmático e assustador.

Por fim, a trilha sonora de “Alice no País das Maravilhas” (2010) não só complementa, como também enriquece a narrativa, traduzindo em música a complexidade emocional e o surrealismo da jornada de Alice e preservando a profundidade que tanto marca a obra original.

Conclusão

“Para quem não sabe aonde ir, qualquer caminho serve Lewis Carroll/Alice no País das Maravilhas. No final das contas, tanto o livro quanto o filme mostram a jornada de autodescoberta de uma jovem perdida e confusa. Isso parece familiar para você? O fato é que a sensação de estar perdido e desamparado acomete, acomete ou acomete tanto a você quanto a mim pelo menos uma vez na vida. Uma vez que todos nós estamos sujeitos a tal situação a única opção que resta é se mover, seja para que lado for bem como Cheshire aconselha Alice no livro.

Alice no País das Maravilhas” (2010) é uma mistura fascinante de fantasia visual e simbolismo emocional, reimaginado sob a ótica excêntrica de Tim Burton. Apesar de alguns momentos em que o visual parece ofuscar o desenvolvimento da trama, o filme ainda entrega uma experiência imersiva e única, em grande parte graças à sua estética marcante e à trilha sonora brilhante de Danny Elfman. 

Embora não seja uma adaptação fiel ao livro original, a obra cumpre seu papel ao recontar a jornada de Alice de uma forma que ressoa com o público moderno, mantendo os temas de autodescoberta e coragem no centro. É um filme que, mesmo com suas falhas, deixa uma impressão duradoura, especialmente para aqueles dispostos a embarcar nesse universo surreal.

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