Análise | Sicario – Terra de Ninguém

Na luta contra o tráfico de drogas na fronteira EUA-México. “Sicario – Terra de Ninguém”, começa com Kate Macer, uma agente idealista do FBI que lidera uma operação que desvenda os horrores escondidos em um esconderijo do Cartel de Sonora. O choque inicial é apenas o prelúdio para uma espiral de violência e moralidade obscura, quando Kate é recrutada para uma força-tarefa liderada pelo misterioso Alejandro Gillick e pelo pragmático Matt Graver. Logo fica claro que esta missão vai além da captura de criminosos: é uma incursão calculada no coração de um império criminoso. 

A missão leva Kate e sua equipe a Ciudad Juárez, onde uma tensa operação de extração mostra o nível de perigo que enfrentam. A cidade é retratada como um campo de batalha, e a atmosfera opressiva só aumenta quando a força de trabalho enfrenta confrontos brutais. Kate, repetidamente substituída por seus colegas mais experientes, começa a entender que a operação tem objetivos obscuros.

O desenrolar da trama revela a complexidade e a corrupção dentro e fora da lei. A frágil aliança entre agências governamentais, interesses e um pragmatismo brutal culmina na revelação de que o verdadeiro objectivo é consolidar os carteis numa estrutura mais “controlável” pelos Estados Unidos. Alejandro encarna esta moralidade ambígua, impulsionada por uma vingança privada que chega ao auge numa cena horrível em que ele destroi Alarcón e a sua família sem remorso. Kate, por outro lado, é forçada a enfrentar a impotência de suas crenças ao ser forçada a legitimar legalmente a missão. 

O final do filme é marcado por uma sensação de desespero e resignação. Kate, incapaz de agir contra Alejandro, simboliza a derrota moral de alguém que tenta restaurar a ordem num mundo onde o caos parece inevitável.

Direção e roteiro de Sicario – Terra de Ninguém

Sicario – Terra de Ninguém estreou no Brasil no dia 22 de outubro de 2015. O filme conta com uma atmosfera tensa de crime e mistério. A tensão permeia a trama do início ao fim, e nos guia em um ritmo lento mas não cansativo, para um desfecho libertados onde finalmente vemos Alejandro virando não só a sua esposa decapitada e filha mergulhada em ácidos, como todas as famílias acometidas pela ação do Cartel de Fausto Alarcon.

Toda a história contada no filme foi criada pelo roteirista Taylor Sheridan. De fato, a riqueza de detalhes na trama evitou que o filme caísse nos clichês de “carteis mexicanos”. Por exemplo, é fácil imaginar a disputa por território entre os carteis, ou imaginar que a polícia local é contratada por essas organizações criminosas. 

Contudo,  a partir do momento em que somos apresentados de maneira aprofundada a esse mundo e a maneira como os “mocinhos e vilões” agem, o filme se torna mais interessante. Um exemplo disso é a cena em que vemos os corpos escondidos nas paredes logo no início do filme, ou na cena em que vemos corpos mutilados e pendurados na grande ponte da cidade de Juarez. Desse ponto em diante percebemos a verdadeira natureza do antagonista, que impõem seu domínio através da perversidade e desumanidade. 

Acima de tudo, a forma como essa história foi “trazida” para o mundo real por meio da direção de Denis Villeneuve conseguiu remontar a realidade de muitas cidades da América Latina inclusive a realidades semelhantes aqui no nosso país. 

Crítica

Sicario – Terra de Ninguém foi aclamada pela crítica, avaliações como a do IMDB reforçam isso. O filme alcançou 7.7 estrelas em uma escala de 493 mil votos. Um elogio recorrente que acompanha o filme é a performance envolvente do ator Benicio del Toro que, até final do longa, rouba o protagonismo do filme. 

Não há como negar que o elenco deste filme possui um nível gigante de carisma. Por exemplo, Josh Brolin cumpriu bem seu papel como alívio cômico trazendo mais leveza, muitas vezes quebrando a expectativa e sequências de tensão. 

Uma das coisas que mais me motivou a assistir este filme é a cena final em que Alejandro vai pôr um fim na vida de seu algoz. Pode parecer leviano resumir o filme todo a uma só cena, mas é esse momento que faz todo o filme valer a pena.

Além disso, a química entre Emily Blunt e Guillermo del Toro é promissora, os dois conseguem construir um relacionamento bem complexo, pois se por um lado Alejandro mostra compaixão por Kate lembrando até mesmo de sua filha morta, por outro não há nenhum sinal de que pouparia a vida da garota se fosse necessário. Isso também é válido para a personagem de Emily Blunt, um exemplo disso é sua incapacidade de atirar em Alejandro mesmo que ele tenha ameaçado caso não assinasse o formulário que indicava cumpriu a operação dentro dos critérios da lei.

“Sicario – Terra de Ninguém” é, sem dúvidas, uma das melhores produções do ano de 2015. Por isso, o filme capta a atenção de espectadores até os dias atuais.

Bilheteria de Sicario – Terra de Ninguém

O filme “Sicario: Terra de Ninguém” pode não ter sido um fenômeno de bilheteria em 2015, mas destacou-se como uma produção altamente rentável. Com um orçamento modesto de apenas US$30 milhões, o longa conseguiu faturar expressivos US$80 milhões, um retorno sólido para um thriller tenso e introspectivo.

No entanto, mesmo com seu desempenho positivo, Sicario ficou aquém do impacto de Os Suspeitos, lançado em 2013. Ambos compartilham gêneros semelhantes e têm Denis Villeneuve na direção. Contudo, “Os Suspeitos” alcançou uma conexão mais ampla com o público e uma performance superior nas bilheterias. Essa comparação apenas reforça o talento de Villeneuve em transformar narrativas densas em obras cativantes, mesmo que nem todas alcancem o mesmo nível de reconhecimento.

Melhores cenas de Sicario – Terra de Ninguém

A trama de “Sicario – Terra de Ninguém” conta conflitos entre segurança nacional e carteis. Um campo de guerra como esse abre margem para um ambiente hostil e sem lei fazendo jus ao próprio nome da obra. Dessa maneira, esse filme está repleto de cenas fortes, a natureza visceral dos personagens é uma das principais elementos que nos prendem até o final do filme. Como por exemplo:

Parede dos mortos: Logo no primeiro ato acompanhamos Kate e sua equipe fazendo busca em uma residência. Depois de abater um criminoso, ela percebe, através dos buracos causados pelos disparos, algo estranho dentro das paredes. À medida em que quebrava as paredes, corpos ensanguentados revestidos por sacos transparentes se revelavam. Na fala dos figurantes, um deles levanta a hipótese que os carteis também traficam órgãos humanos.

Ponte de Juarez: Quando Kate e Alejandro chegam a Juarez são recebidos com uma macabra “boas vindas” que aquela cidade tinha a oferecer. Corpos humanos mutilados e pendurados por cordas presas a ponte como se fossem animais de abate, mostram a brutalidade com que os carteis agiam. É uma cena memorável que dificilmente sai da cabeça de quem assiste. 

Vingança pela esposa decapitada: Uma das grandes surpresas do filme é quando nos é revelado o porquê de Juarez está caçando o chefe do cartel mexicano. O mercenário teve sua esposa decapitada e sua filha mergulhada em um barril de ácido. Finalmente o mercenário encontra Fausto, ironicamente desfrutando de uma bela refeição com filhos e esposa. Ao confrontar Fausto e expor a hipocrisia da situação, o mesmo não demonstra arrependimento nem no seu último suspiro. 

Portanto, todos esses momentos tornam o filme “Sicario – Terra de Ninguém” um dos filmes mais memoráveis de Denis Villeneuve.

Trilha sonora de Sicario – Terra de Ninguém

A trilha sonora de Sicario: Terra de Ninguém, composta pelo brilhante Jóhann Jóhannsson, é um elemento essencial que eleva o filme a um nível ainda mais intenso. Conhecido por trabalhos como A Chegada e A Teoria de Tudo, Jóhannsson entrega aqui uma obra visceral, que foge dos clichês associados ao México, como músicas latinas tradicionais, e aposta em uma sonoridade mais sombria e densa. Essa escolha contribui para a seriedade da narrativa, traduzindo o clima de tensão e incerteza com uma precisão impressionante.

O álbum é marcado por melodias encorpadas e ritmos que evocam tanto a vastidão das paisagens áridas quanto o peso dos dilemas morais dos personagens. A trilha cria uma atmosfera que mantém o espectador em alerta, refletindo a crueza e a intensidade do enredo. Mais do que acompanhar o filme, a música se torna parte vital da experiência, reforçando sua profundidade emocional e sua força narrativa.

Conclusão

O filme foi dirigido por Denis Villeneuve, contou com uma escala de atores de peso, e foi produzido com um baixo orçamento. Contudo, o motivo principal que me levou a assistir esse longa é a cena final em que Alejandro encontra Fausto em um agradável jantar com a sua família.

Nessa cena, é possível nos colocarmos no lugar do mercenário e decidir de forma parcial ou imparcial sobre aquela família. Podemos imaginar facilmente o se teríamos ou não coragem de vingar a morte brutal de alguém que amamos. Sicario – Terra de Ninguém coloca na mesa duas vertentes éticas e deixa ao nosso critério concluir o que é certo e errado, e é isso é o que torna a obra tão incrível. 

Além disso, quando Matt Graver (Josh Brolin) fala “Você vai duvidar de tudo o que fazemos. Mas, no final, você entenderá.”, percebemos outra mensagem interessante sobre os fins justificarem os meios e nos fazendo questionar ainda mais o conceito de justiça.

Por fim, “Sicario – Terra de Ninguém” é um filme verdadeiramente bom que até os dias de hoje vem superando o maior crítico de todos, o tempo. Tanto os diálogos, quanto a cinematografia e atuações mostram uma qualidade que bate em produções mais atuais. Essa foi a análise de hoje, espero que tenha te ajudado de alguma forma, e até a próxima!